Judas Priest: 20 anos de “Demolition”

“Demolition”, do Judas Priest, que completa 20 anos em 2021

Na última sexta-feira, 16 de julho, o álbum “Demolition”, o 14° disco de estúdio do Judas Priest, completou 20 anos de lançamento. A obra foi o último trabalho de estúdio do vocalista Tim “Ripper” Owens com os Metal Gods. O material foi gravado entre 1999 e 2001 no Silvermere Studios, em Surrey, na Inglaterra, lançado pela SPV e produzido por Glenn Tipton.

Depois da receptividade mediana para “Jugulator” (1997), os Metal Gods fizeram de tudo para analisar o que deu errado em relação ao trabalho anterior e, para alegrar os fãs, se comprometeram a fazer um som mais próximo ao material mais antigo do Judas, especialmente na década de 1980, contudo, com uma “saraivada” de riffs no estilo do disco anterior com adições de elementos do Nu-Metal, como samples, guitarras afiadas e batidas de estilo industrial.

Mas, o tiro saiu pela culatra, pois a recepção foi muito pior em relação a “Jugulator”, apesar de ter um bom desempenho nas paradas alemãs, com o 16° lugar, o álbum figurou discretamente no 165° posto da Billboard 200.

Owens afirmou que Demolition foi seu álbum favorito que ele fez com o grupo, alegando que tinha “melhores vocais e mais melodia” do que “Jugulator”. Em 2018, o ex-vocalista prometeu regravar este álbum e seu predecessor, pois ele sente que sua era da banda foi “apagada”. Embora Rob Halford disse ao The SDR Show que pode ser que um dia ele cantasse alguma coisa dos dois discos nos shows. Além disso, Richie Faulkner, o substituto de K. K. Downing na banda, disse que a faixa “Hell Is Home” é uma de suas favoritas da “era Ripper” na banda.

O disco é daqueles para quem está acostumado com Rob Halford pode soar um tanto estranho nas primeiras audições, mas é daqueles típicos casos que a gente aprende a gostar a cada audição. O play tem boas músicas, como “Machine Man”, que abre a obra e que caberia facilmente na obra-prima “Painkiller” (1990). A modernidade se faz presente na faixa seguinte, “On On One”, que é forte. A terceira música é “Hell Is Home”, que brinda o ouvinte com o seu clima melancólico. Posteriormente, “Jekyll And Hide” começa com uma ‘pedrada’, seguido de riffs pesados e um vocal destruidor de Ripper. No final, o vocalista dá uns urros que lembram vagamente Rob Halford.

A obra ainda contém boas baladas, como “Close To You” e “Lost And Found”. Já “Devil Digger”, a faixa 6, mantém a atmosfera do disco anterior. Não tem como não falar de Judas Priest sem falar das guitarras duplas, né? Elas estão presentes na ótima e contagiante “Bloodsucker”, que começa com sussurros e, mais à frente, culmina em um riff sensacional capitaneado por K.K. Downing e Glenn Tipton. Enquanto isso, “In Between” possui uma série de mudanças de tempo e é uma faixa bem New Metal. Posteriormente, “Feed On Me” é uma música que, embora tenha bastante peso na ‘intro’, a presença de teclados e efeitos é bem abusiva e o vocal de Tim lembra um pouco Ronnie James Dio nos primeiros versos.

Na reta final da obra, “Subterfuge” que merece atenção pela letra questionadora e as notas altas atingidas por Owens. Depois, aparece a já citada balada “Lost And Found”, que é um pouco fraca em relação às demais faixas. Enquanto isso, em “Cyberface”, que teve a primeira colaboração do baterista Scott Travis como compositor, mas é fraca e meio decepcionante os efeitos na mudança de voz eletrônica. E o tracklist original termina com “Metal Messiah”, que começa com Tim cantando quase falando, como se fosse RAP, mas o refrão da música é sensacional: “He’s the man! Armageddon! Walking through fire! Metal Messiah!” (algo como, “Aqui está o homem! Armagedon! Andando no fogo! Messias do Metal”).  Nos baseando nesse refrão, será que esse Messias do Metal é o que aparece na capa de “Redeemer Of Souls” (2014)?

Bom, vale destacar que “Demolition” teve a participação especialíssima de Don Airey (tecladista do Deep Purple) e que o álbum foi o primeiro disco dos caras a apresentar o selo “Parental Advisory” na capa por conta das canções “Machine Man” e “Metal Messiah”, que contém palavrões.

E, para variar, a versão japonesa da obra veio acrescida da faixa “What’s My Name“, enquanto a edição lançada em digipak veio com dois bônus: as regravações de “Rapid Fire” e de “The Green Manalishi“, cover de Fleetwood Mac que o grupo lançou originalmente em “Killing Machine” (1979). Enquanto a edição australiana da obra vem com as três faixas citadas como bônus.

O álbum é excelente, mas claro que é injusto compará-lo com os demais discos da banda, mas traz o velho Priest de sempre, mas com uma nova “roupagem”, mas é uma aula de Heavy Metal. Afinal, Ian Hill fez um trabalho firme no baixo, Scott Travis é um dos maiores bateristas do gênero, K. K. Downing e Glenn Tipton mantiveram as guitarras afiadas como sempre, enquanto Tim “Ripper” Owens atestou ter sido a melhor escolha para o lugar de Rob Halford. E privilegiado é o fã do Judas Priest que tem o Metal God nos vocais e teve a presença do “Messias do Metal” em sua line-up. O último trabalho de Owens na banda foi com o álbum ao vivo “Live In London” (2003), gravado justamente durante a turnê de “Demolition”.

É uma obra que pode ser apreciada sim, sem purismo.

A seguir, a ficha técnica e o tracklist (da versão australiana) da obra.

Álbum: Demolition
Intérprete: Judas Priest
Lançamento: 16 de julho de 2001
Gravadora: SPV
Produtor: Glenn Tipton

Tim “Ripper” Owens: voz
K. K. Downing e Glenn Tipton: guitarras
Ian Hill: baixo
Scott Travis: bateria

Don Airey: teclados

1. Machine Man (Tipton)
2. One On One (Downing / Tipton)
3. Hell Is Home (Downing / Tipton)
4. Jekyll And Hyde (Tipton)
5. Close To You (Downing / Tipton)
6. Devil Digger (Tipton)
7. Bloodsuckers (Downing / Tipton)
8. In Between (Tipton)
9. Feed On Me (Tipton)
10. Subterfuge (Tipton / Tsangarides)
11. Lost And Found (Downing / Tipton)
12. Cyberface (Tipton / Travis)
13. Metal Messiah (Tipton / Tsangarides)
Faixas Bônus:
14. What’s My Name (Owens / Downing / Tipton)
15. Rapid Fire (Halford / Downing / Tipton)
16. The Green Manalishi (Green)

Por Jorge Almeida

Judas Priest: 15 anos de “Angel Of Retribution”

“Angel Of Retribution”: álbum do Judas Priest que marca a volta de Rob Halford à banda, completa 15 anos em 2020

Neste domingo, 1º de março, o décimo quinto disco de estúdio do Judas Priest, “Angel Of Retribution“, completou 15 anos de seu lançamento (Ok, a versão japonesa da obra saiu uns dias antes, em 23 de fevereiro de 2005). Gravador entre outubro e dezembro de 2004, no Old Smithy, em Worcestershire, na Inglaterra, e no Sound City, na Califórnia, o trabalho foi produzido por Roy Z e lançado pela Epic. O álbum marca o retorno do vocalista Rob Halford à banda.

A obra estava originalmente prevista para sair no final de 2004, porém, a gravadora adiou o lançamento para o início de 2005, na esperança de melhores vendas. As primeiras cópias têm o ano de 2004 impresso nas capas. E, para Rob Halford, quando ele e os demais integrantes se reuniram para escrever o novo material, parecia que seria uma espécie de continuação de “Painkiller” (1990), o que para os fãs do vocalista e também aos que não apreciaram a passagem de Tim “Ripper” Ovens no grupo, não deixa de ser uma verdade.

O material começa com “Judas Rising“, que fala sobre o anjo que foi ao inferno e ressurgiu para uma nova vida, mas apesar de ter o nome de um dos maiores traidores da humanidade, ele vem com a missão de salvar. Uma típica canção dos Metal Gods: rápida, ótimos agudos de Rob e os riffs maravilhosos da dupla K.K. Downing e Glenn Tipton. O segundo tema é a, digamos, autobiográfica “Deal With The Devil“, que tem Roy Z na co-autoria, cuja letra faz um resumo dos 30 anos da banda. Pesada e com um refrão forte, Rob Halford dá uma aula de interpretação e, só para constar, a letra cita dois temas do grupo de outrora: “Blood Red Skies” e “Take On The World“. A faixa seguinte é “Revolution”, que foi o primeiro single do disco, e, embora seja lenta, não tem status de uma balada. É mais contida, mas não exigiu aquelas guitarras espetaculares típicas dos caras. Para quem curte a fase do álbum “Turbo” (1986), não encontrará problema algum em ouvi-la. A faixa quatro é uma das minhas favoritas do Judas: “Worth Fighting For“, uma power balada, cadenciada e que parece ser uma continuidade de “Desert Plains“, de “Point Of Entry” (1981). A obra chega à metade com “Demonizer“, que faz referência a outros dois temas da banda: “The Hellion” e “Painkiller“. Enérgica e com uma bateria avassaladora. Lembra quando mencionei que Rob Halford comentara que o play seria uma continuação de “Painkiller“? E não é que parece mesmo?

A sexta música do play é “Wheels Of Fire“, que mantém o peso da faixa anterior, com Scott Travis detonando na caixa da bateria e o riff de guitarra maravilhoso. Posteriormente, outra balada: a maravilhosa “Angel“, que Halford interpreta magistralmente bem. A música trata da desilusão com as injustiças que a vida nos arma e como nos livrar da corrupção no mundo. É incrível a capacidade de caras como Rob Halford faz para emocionar o seu ouvinte quando ele ouve uma atuação tão boa. O tema posterior é a pesada “Hellrider“, que aborda sobre o modo de vida dos fãs de Heavy Metal e com diversas metáforas em que a história da banda é protagonista mais uma vez. A cozinha de Ian Hill e Scott Travis mantiveram uma levada precisa, e mais referências a outros clássicos, como “Ram It Down” e “Tyrant“. A penúltima canção é a balada (mais uma!?) “Eulogy“, que é a mais curta da obra, com um instrumental mais calmo, a música faz referência a “Stained Class” e “The Sentinel“, mais dos petardos dos tempos de outrora dos Metal Gods. E, para finalizar, a épica “Lochness“, a longa faixa que mescla atmosferas épicas e guitarras impactantes. Rob Halford tem mais uma interpretação magnífica. É a versão “priesteriana” de “Rime Of The Ancient Mariner“, do Iron Maiden, sacou?

Para a turnê, seis músicas do disco foram tocadas ao vivo: “Hellrider“, “Deal With The Devil“, “Worth Fighting For“, “Revolution“, “Judas Rising” e “Angel“, sendo que as duas últimas apareceram nos últimos anos no repertório do quinteto.

O álbum foi lançado no formato DualDisc, com conteúdo tradicional em CD de um lado e conteúdo de DVD do outro lado. O lado em DVD deste álbum apresentava um documentário intitulado “Reunited“, bem como o álbum inteiro em um formato de áudio aprimorado. No Japão, foi lançado como um conjunto de dois discos contendo áudio em CD e vídeo em DVD.

A versão importada de “Angel Of Retribution” vale bem mais a pena em relação à edição nacional. Pois, além de conter material bônus, como DVD, contém o encarte bem trabalhado com as letras das músicas, por exemplo. Enquanto aqui, apenas uma embalagem de CD normal, um encarte básico e só.

O play estreou no 13º lugar na Billboard 200 e ajudou o Judas Priest a conquistar o prêmio Metal Hammer em 2005 como melhor álbum, enquanto na Burrn!, os leitores elegeram “Angel Of Retribution” como o melhor álbum do ano e a melhor capa de álbum.

E, assim, Rob Halford retornara à banda da qual ele nunca deveria ter saído. O Judas Priest sem ele é a mesma coisa do Iron Maiden sem Bruce Dickinson: é possível, mas difícil de aceitar.

Só para finalizar: a obra vale muito a pena. Um dos melhores discos do Heavy Metal lançado na primeira década dos anos 2000.

A seguir, a ficha técnica e o tracklist da obra.

Álbum: Angel Of Retribution
Intérprete: Judas Priest
Lançamento: 23 de abril de 2005 (Japão) / 1º de março de 2005 (internacional)
Gravadora: Epic
Produtor: Roy Z

Rob Halford: voz
Glenn Tipton e K. K. Downing: guitarras
Ian Hill: baixo
Scott Travis: bateria

Don Airey: teclados

1. Judas Rising (Halford / Downing / Tipton)
2. Deal With The Devil (Halford / Downing / Tipton / Roy Z)
3. Revolution (Halford / Downing / Tipton)
4. Worth Fighting For (Halford / Downing / Tipton)
5. Demonizer (Halford / Downing / Tipton)
6. Wheels Of Fire (Halford / Downing / Tipton)
7. Angel (Halford / Downing / Tipton)
8. Hellrider (Halford / Downing / Tipton)
9. Eulogy (Halford / Downing / Tipton)
10. Lochness (Halford / Downing / Tipton)

Por Jorge Almeida

Judas Priest: 30 anos de “Ram It Down”

“Ram It Down”: álbum do Judas Priest que completa 30 anos nesta quinta-feira

Hoje, 17 de maio, o décimo primeiro trabalho de estúdio dos britânicos do Judas Priest completa 30 anos de seu lançamento. Gravado entre dezembro de 1987 e março de 1988 no Ibiza Sound Studio, em Ibiza, na Espanha, e no Puk Recording Studios, em Gjerlev, na Dinamarca, “Ram It Down” foi lançado pela Columbia Records. O álbum marca o último trabalho do baterista Dave Holland e também o último a ser produzido por Tom Allon, até 2009, quando voltou para produzir o ‘live’ “A Touch Of Evil: Live”.

A turnê para promover o álbum foi a mais longa dos Metal Gods na década de 1980, com 102 shows, contudo, sem nenhuma liberação oficial do Judas Priest para quaisquer gravações ao vivo. A tour, intitulada Mercenaries Of Metal Tour, teve excursões pela Europa e América do Norte. Contudo, antes de a turnê iniciar, a banda visitou Estocolmo, na Suécia, e também Amsterdam, na Holanda, em abril de 1988, onde as filmagens para o vídeo de “Johnny B. Goode” foram realizadas.

Com “Ram It Down”, o Judas Priest retornou à sonoridade e ao visual característico do grupo e, com relativo sucesso nos Estados Unidos, onde receberam o disco de ouro pelas vendas de mais de 500.000 cópias em solo ianque. Apesar dos esforços do quinteto do grupo em tentar “voltar às raízes”, o Priest não conseguiu convencer parte dos fãs e dos críticos.

Curiosamente, foi nesta turnê que a banda voltou a tocar em sua terra natal após quatro anos de ausências em solo britânico, onde incluíram no setlist temas compostos nos anos 1970, como “Sinner” e “Beyond The Realms Of Death”, as quais foram omitidas do repertório da tour “Fuel For Life”.

A princípio, em 1986, o Judas Priest tinha o projeto em lançar um disco duplo, que seria intitulado “Twin Turbos”, do qual metade seria composto por temas de hard rock melódico, mais comercial, e a outra parte traria mais peso e menos sintetizado. Todavia, a Columbia Records limou a ideia de trabalho duplo e o conceito acabou sendo dividido em dois lançamentos separados: “Turbo”, que saiu em 1986, e o de 1988, “Ram It Down”, claro – entre os dois discos de estúdio, a banda lançou “Priest… Live” (1987), álbum ao vivo. Quatro músicas foram escritas para esse projeto engavetado: “Ram It Down”, “Love You To Death”, “Hard As Iron” e “Monsters Of Rock”.

Entre os destaques do play, foi a versão excelente de “Johnny B. Goode”, de Chuck Berry, presente no álbum, gravado especialmente para a trilha sonora do filme “Johnny Be Good”, de 1988, estrelado por Antony Michael Hall, Uma Thurman e Robert Downey Jr. O cover foi o primeiro single do álbum e também foi tocado pelo grupo nos primeiros shows da turnê de 1988, assim como outros três faixas do disco. Nas turnês posteriores, apenas duas músicas de “Ram It Down” foram tocadas pelo Judas Priest: “I’m Rocker”, na turnê de Retribution (em 2006) e “Blood Red Skies”, durante a Epitaph World Tour (2010-2011).

Uma curiosidade que marcou o álbum foi o uso de bateria eletrônica para substituir Dave Holland em algumas partes, pois ele apresentava problemas de saúde.

Uma música que deveria ter sido incluída originalmente no play era “Thunder Road”, mas depois que os produtores do disco foram convidados a fazer o cover de “Johnny B. Goode”, a faixa foi substituída e só lançada como faixa bônus da versão remasterizada de 2001 de “Point Of Entry”.

Embora não tenha agradado os fãs e a crítica em cheio, esse álbum considero uma “transição” ou um “esboço” para a obra-prima que os caras lançariam dali a dois anos: “Painkiller” (1990). Com bateria rápida e músicas executadas em alta velocidade, as temáticas do disco estavam direcionadas para a ficção científica. Mas os pontos altos do trabalho são “Hard As Iron” e “Heavy Metal”, sendo que nessa última é notória a semelhança do solo de guitarra de abertura com o solo de “Metal Meltdown”, do disco posterior.

Em 2001, o álbum teve uma edição remasterizada com duas faixas bônus.

A seguir, a ficha técnica e o tracklist da obra.

Álbum: Ram It Down
Intérprete: Judas Priest
Lançamento: 17 de maio de 1988
Gravadora: Columbia Records
Produtores: Tom Allom, Glenn Tipton, Rob Halford e K. K. Downing

Rob Halford: voz
K. K. Downing: guitarra
Glenn Tipton: guitarra e sintetizadores
Ian Hill: baixo
Dave Holland: bateria

1. Ram It Down (Tipton / Halford / Downing)
2. Heavy Metal (Tipton / Halford / Downing)
3. Love Zone (Tipton / Halford / Downing)
4. Come And Get It (Tipton / Halford / Downing)
5. Hard As Iron (Tipton / Halford / Downing)
6. Blood Red Skies (Tipton / Halford / Downing)
7. I’m A Rocker (Tipton / Halford / Downing)
8. Johnny B. Goode (Berry)
9. Love You To Death (Tipton / Halford / Downing)
10. Monsters Of Rock (Tipton / Halford / Downing)

Por Jorge Almeida

Judas Priest: 20 anos de “Jugulator”

“Jugulator”: álbum que marca a estreia de Tim “Ripper” Owens no Judas Priest

Coincidentemente, assim como “Carnival Of Souls – The Final Sessions”, do Kiss, o também injustiçado “Jugulator”, do Judas Priest, completa 20 anos de seu lançamento neste mesmo dia 28 de outubro de 2017. O décimo terceiro álbum de estúdios da banda de Birmingham foi o primeiro trabalho do grupo sem Rob Halford nos vocais, que foi substituído pelo “desconhecido” Tim “Ripper” Owens. Gravado entre 1996 e 1997 no Silvermere Studios, em Surrey, na Inglaterra, o material foi produzido por Glenn Tipton, K. K. Downing e Sean Lynch, o disco foi lançado pela SPV/Steamhammer na Europa e no Japão (onde saiu doze dias antes dos demais lugares, em 16 de outubro) e pela CMC International nos Estados Unidos.

Após a saída de Rob Halford, o futuro do Judas Priest estava incerto. Então, K. K. Downing e Glenn Tipton se reuniram para a definição do rumo que a banda tomaria. Assim, chegaram à conclusão de que deveriam continuar, mas com uma árdua tarefa: encontrar um vocalista. Mas, para ocupar o posto não poderia ser qualquer um, afinal, seria substituir “simplesmente” Rob Halford, ou seja, não se encontra um cantor do naipe do careca em qualquer esquina.

Depois de conferirem algumas audições, o escolhido para a função foi o norte-americano Tim Owens, que havia integrado um grupo chamado Winter’s Bane e cantava em uma banda cover do Judas Priest intitulada British Steel. Essa situação envolvendo Owens foi inspiração para o diretor Stephen Herek a produzir o filme Rock Star. Em 1996, já como integrante oficial do Judas Priest, recebeu o apelido de “Ripper”, adotado de uma música de mesmo nome, que foi aceito pelos seus fãs e também pela sua própria mãe.

Com Tim “Ripper” Owens nos vocais, os caras foram com tudo para fazer um disco de inéditas. A dupla de compositores da banda, Tipton e Downing, aproveitaram do “sangue novo” de Owens e mandaram ver no peso nas composições, que beiram ao trash metal, ao trazer timbragens com afinações mais baixas e com menos melodias nos solos, o que os deixou mais “sujos”. E o novato não fez feio, pois com a sua garganta poderosa e interpretações magníficas, o vocal de Owens é o grande destaque do disco.

As letras do disco abordam temas mais severos em relação aos lançamentos anteriores, incluindo o demônio mecanizado que dá título ao álbum, que desencadeia suas presas até o fim do mundo, representado em “Cathedral Spires”.

O play abre com a faixa-título, cuja intro começa com uma atmosfera de uma indústria, mas quando a música começa de fato, Owens dá as caras com um agudo que chega a arrepiar. Uma música considerada até “muito pesada” para os padrões do Priest.

O disco parece descrever o fim do mundo. Apesar do peso das músicas e do teor das letras, o álbum dividiu a opinião dos fãs e da crítica. Gostos à parte, o que não podemos negar é que a banda não errou na escolha do substituto de Rob Halford. Uma vez que Tim “Ripper” Owens se destaca em canções como “Dead Meat”, “Decapitate” e “Burn In Hell”, todas que descrevem os males que os humanos fazem para o próximo (e para si mesmos). No final, as ações maléficas foram tão grandes em número que consumiram e destruíram o mundo.

Aliás, “Burn In Hell” foi uma das primeiras músicas gravadas com o vocalista,  ganhou um videoclipe e é uma das faixas favoritas do agora ex-vocalista do Priest. No entanto, foi o single “Bullet Train” foi quem recebeu a indicação ao Grammy na categoria de “Melhor Performance Metal”.

Em janeiro de 1998, o quinteto agora formado por Glenn Tipton e K. K. Downing nas guitarras, Ian Hill no baixo, Scott Travis na bateria e Tim “Ripper” Owens no vocal, saíram em turnê com a “Jugulator World Tour”, com grande sucesso na Europa e América do Norte, onde pisaram pela primeira vez no México.

Depois de “Jugulator”, a era Owens ainda teve os registros dos ao vivo “’98 Live Meltdown” e “Live In London” (2003) e de “Demolition” (2001). Mas, sabe como é, né? Apesar de ser um tremendo vocalista, Tim “Ripper” Owens não agradou os fãs mais radicais do Priest que clamavam pela volta de Rob Halford, que aconteceu em 2003, e, consequentemente, voltaram ao Hard Heavy padrão e tiraram o pé do acelerador nas músicas.

No entanto, o bom papel no Judas Priest rendeu frutos a Owens, que não ficou esquecido, caiu na estrada e não parou mais. O cara foi trabalhar com gente como Iced Earth, Beyond Fear, Yngwie Malmsteen, entre outros tantos trabalhos, inclusive o Dio Disciples, que passou pelo Brasil.

Apesar da qualidade do material, o disco foi um fracasso comercial, mas isso deve-se mais ao “preconceito” que tiveram com o novato, mas como o próprio Halford já dissera por aí que o Judas Priest não poderia ter escolhido melhor pessoa para substituí-lo.

Esse também faz parte daquela lista de “discos injustiçados”. Vale a pena conhecê-lo.

A seguir, a ficha técnica e o track list do disco.

Álbum: Jugulator
Intérprete: Judas Priest
Lançamento: 28 de outubro de 1997 / 16 de outubro de 1997 no Japão
Gravadora: SPV/Steamhammer (Europa/Japão) / CMC International (EUA)
Produtores: Glenn Tipton, K. K. Downing e Sean Lynch

Tim “Ripper” Owens: voz
K. K. Downing: guitarra
Glenn Tipton: guitarra
Ian Hill: baixo
Scott Travis: bateria

1. Jugulator (Tipton / Downing)
2. Blood Stained (Tipton / Downing)
3. Dead Meat (Tipton / Downing)
4. Death Row (Tipton / Downing)
5. Decapitate (Tipton / Downing)
6. Burn In Hell (Tipton / Downing)
7. Brain Dead (Tipton / Downing)
8. Abductors (Tipton / Downing)
9. Bullet Train (Tipton / Downing)
10. Cathedral Spires (Tipton / Downing)

Por Jorge Almeida

Judas Priest: 10 anos de “Angel Of Retribution”

"Angel Of Retribution": álbum do Judas Priest que marca a volta de Rob Halford nos vocais dos Metal Gods
“Angel Of Retribution”: álbum do Judas Priest que marca a volta de Rob Halford nos vocais dos Metal Gods

Então, já que estamos às vésperas de mais uma edição do Monsters Of Rock, que tal lembrarmos dos dez anos de um grande disco que foi lançado por uma das principais atrações do festival? Me refiro ao álbum “Angel Of Retribution”, do Judas Priest, que no último dia 1º de março, completou uma década de vida, pelo menos a versão norte-americana, uma vez que a edição japonesa (sempre eles) saíra um pouco antes – em 23 de fevereiro de 2005 – enquanto a europeia saiu cinco dias depois dos nipônicos. O play ficou marcado pela volta de Rob Halford aos vocais da banda, após quase 15 anos de ausência.

Cerca de dois ou três anos antes do lançamento do disco, houve muitas especulações sobre o retorno de Halford aos Metal Gods. No entanto, em uma carta enviada à imprensa em julho de 2003, o boato virou fato: Rob Halford estava de volta ao Judas Priest e, para celebrar o seu retorno, a banda realizou uma pequena turnê. Após a oficialização dessa volta, Tim Owens deu declarações na mídia agradecendo pelo tempo que passou no Judas Priest e, de forma amigável, saiu para a volta do ídolo. Depois do Priest, ele seguiu no Iced Earth, montou a sua própria banda, o Beyond Fear, além de ter participado de vários projetos, inclusive o Dio Disciples.

Em junho de 2004, o grupo iniciou uma turnê intitulada como “Reunited Summer Tour”, que foi composta por 15 apresentações pela Europa, incluindo alguns festivais como o Gods Of Metal, da Itália, e o belga Graspop Metal Meeting, além de ter sido um dos headlines do cast do Ozzfest, realizado entre julho e setembro, nos Estados Unidos.

Então, depois da série de shows para celebrar a volta do vocalista, o Judas ficou entre outubro e dezembro de 2004 nos estúdios Old Smithy, em Worcestershire, na Inglaterra, e no Sound City, na Califórnia (EUA) para gravar o primeiro álbum de estúdio da banda de Birmingham com os vocais de Rob Halford desde “Painkillier” (1990).

Uma semana após o lançamento oficial do disco na Europa, teve início a “Retribution World Tour” que, ao longo de 2005, levou o grupo a vários países pelo mundo afora, incluindo os países bálticos, fato até então inédito na carreira dos caras.

Em 18 de maio de 2005 foi gravado o DVD “Rising In The East”, no Nippon Budokan, em Tóquio. O material foi lançado em 8 de novembro do mesmo ano pela Rhino Records que, pouco tempo depois, recebeu certificado de ouro nos Estados Unidos, com mais de 50 mil cópias vendidas.

Co-produzido com Roy Z, “Angel Of Retribution” estreou na 13ª posição na Billboard, colocação bem superior em relação aos últimos trabalhos (“Demolition” ficou em 165º lugar, enquanto “Jugulator” ocupou o 82º posto) e chegou ao topo das paradas na Grécia.

Curiosamente, no play, as referências líricas de alguns temas mencionam expressões, inclusive títulos, de músicas de trabalhos anteriores do Priest. Exemplos: em “Demonizer”, há referências tanto para “The Hellion” (de “Screaming For Vengeance”) quanto “Painkiller”, do álbum homônimo; enquanto isso, “Hellrider” menciona a faixa-título de “Ram It Down” e também “Tyrant”, tema de “Sad Wings Of Destiny”; já em “Eulogy” são citados “Stained Class” e “The Sentinel”, faixas dos álbuns “Stained Class” e “Defenders Of The Faith”, respectivamente; e a autobiográfica “Deal With The Devil” cita três músicas da banda: “Blood Red Skies”, de “Ram It Down”, “Take On The World” (de “Hell Bent For Leather/Killing Machine”) e “Beyond The Realms Of Death” (de “Stained Class”).

O álbum abre com “Judas Rising”, que traz um riff matador e letra que fala de um anjo que mergulhou no inferno e renasceu para ter uma nova vida. Na sequência, surge a já citada autobiográfica “Deal With The Devil”, que é considerada mais forte do trabalho, e aborda, resumidamente, os 30 anos de carreira da banda e também da evolução do Heavy Metal. O produtor Roy Z é um dos co-autores. O terceiro tema, “Revolution”, foi escolhida para ser o primeiro single do álbum. No entanto, ela soa “diferente” em relação às demais, remete ao Hard Rock dos anos 1980, não tem nada de extraordinário. Posteriormente, vem a ótima “Worth Fighting For”, uma grande balada que fala de algo que você ama e acredita. Para este que vos escreve, é a melhor música do disco. E “Angel Of Retribution” chega a sua metade com “Demonizer”, que faz referência a antigos clássicos e com pegada que lembra “Painkiller”.

A sexta faixa é “Wheels Of Fire”, que embora seja tão pesada quanto a anterior, não teve o mesmo destaque. É daquelas músicas que, daqui a alguns anos, será tratada como “lado B” da vasta carreira discográfica da banda. Não é à toa que nunca fez parte do setlist do Judas Priest. Já “Angel”, outra balada, tem uma letra maravilhosa e um pomposo trabalho de guitarra de Glenn Tipton, tanto na base quanto no solo. Já a pesada “Hellrider” cita várias metáforas em relação à história da banda. Enquanto isso, “Eulogy“, a menor faixa do disco com um pouco mais de dois minutos, conta o recomeço da história do anjo Judas. E, finalmente, “Lochness“, que fala do monstro do lago Ness, na Escócia, em um pouco mais de 12 minutos entre momentos pesados e calmos. Tem uma pegada que lembra os conterrâneos do Black Sabbath.

A capa do álbum resgata o passado do grupo, mais especificamente “Sad Wings Of Destiny”, que mostrava um anjo no inferno em volta de lavas. O conceito com “Angel Of Retribution” é de que ele ressurgiu como um ser metálico como um messias que quer salvar a humanidade através do Heavy Metal. Embora essa ideia fora abordada anteriormente em músicas como “Painkiller” (1990) e “Exciter” (1978).

O disco foi lançado em três formatos: CD e DVD, DualDisc – ambos importados – e CD simples que, aqui no Brasil, levou o adjetivo ao pé da letra. Sim, a versão nacional do trabalho veio em uma caixinha normal e um encarte básico. Enquanto isso, embora seja o dobro, a versão que traz o DVD como bônus vale a pena. Pois, além das dez faixas do CD, o material extra traz sete clássicos tocados ao vivo em um show realizado na Espanha em 2004 (embora as músicas foram tocadas fora da ordem e não foram editadas para formarem um filme só), além de um documentário intitulado “Reunited”, que apresenta entrevistas e detalhes da gravação do novo disco. Já o DualDisc traz apenas o documentário como extra e não é possível de tocar na maioria dos aparelhos de CDs dos veículos.

Por ter uma excelente produção, em especial aos sons das guitarras, “Angel Of Retribution” é uma ótima pedida e que casou perfeitamente com a volta triunfal de uma das mais clássicas formações da história do Heavy Metal. Obrigatório.

A seguir, a ficha técnica e o tracklist do disco.

Álbum: Angel Of Retribution
Intérprete: Judas Priest
Lançamento: 23/02/2005 (Japão); 28/02/2005 (Europa); 1º/03/2005 (EUA e internacional)
Gravadora: Epic
Produtores: Roy Z e Judas Priest

Rob Halford: voz
Glenn Tipton: guitarra
K. K. Downing: guitarra
Ian Hill: baixo
Scott Travis: bateria

Don Airey: teclados

1. Judas Rising (Halford / Downing / Tipton)
2. Deal With The Devil (Halford / Downing / Tipton / Roy Z)
3. Revolution (Halford / Downing / Tipton)
4. Worth Fighting For (Halford / Downing / Tipton)
5. Demonizer (Halford / Downing / Tipton)
6. Wheels Of Fire (Halford / Downing / Tipton)
7. Angel (Halford / Downing / Tipton)
8. Hellrider (Halford / Downing / Tipton)
9. Eulogy (Halford / Downing / Tipton)
10. Lochness (Halford / Downing / Tipton)

Por Jorge Almeida

Os 35 anos do primeiro “live” do Judas Priest

"Unleashed In The East": o primeiro "live" do Judas Priest
“Unleashed In The East”: o primeiro “live” do Judas Priest

Em 17 de setembro de 1979, há exatos 35 anos, o Judas Priest lançara “Unleashed In The East”, o seu primeiro álbum ao vivo. Gravado entre os dias 10 e 15 de fevereiro no Kosei Nenkin Hall e no Nakano Sun Plaza, ambos em Tóquio, no Japão, durante a “Hell Bent Of Leather Tour”, o registro marca a estreia de Tom Allom na produção junto com a banda. Aliás, ele passou a produzir todos os trabalhos dos Metal Gods até “Ram It Down”, de 1988.

Apesar de ter sido o álbum mais vendido da banda até aquele momento, só nos Estados Unidos, por exemplo, o play ultrassara a marca de um milhão de cópias vendidas, o que marcou a entrada de um trabalho da banda no top 100 no território ianque, e no Reino Unido chegou ao top 10, boa parte do material captado nas apresentações na Terra do Sol Nascente precisou ter os vocais refeitos em estúdio (os famosos “overdubs”). Isso porque a voz de Rob Halford, na gravação original, estava quase inaudível. Por isso, o álbum é jocosamente é conhecido como “Unleashed In The Studio”.

Controvérsias à parte, o que não podemos negar é que “Unleashed In The East” é um tremendo disco. Pois seu tracklist é recheado de clássicos e só não teve mais por conta da limitação física, o que fez que outros hinos metálicos ficassem de fora, e inseridos posteriormente em relançamentos. E foi justamente nessa época que o Judas Priest passou a adotar a vestimenta de couro, que se tornou a marca registrada do grupo. Além disso, a line-up do grupo trazia Les Binks, considerado o melhor baterista a passar pelo Priest.

Aliás, além das seis datas no Japão, a turnê mundial começou em 13 de outubro de 1978, em Londres, e terminou em Nice, a 15 de dezembro de 1979.

Na época de seu lançamento, ou seja, em LP, o tracklist do play era composto por nove faixas. E os japoneses (sempre eles!) foram agraciados ainda com um EP bônus com mais quatro temas, que em 2001, no relançamento do disco em CD, foram convertidos em faixas bônus.

Bom, apesar dos “overdubs” utilizados na produção de “Unleashed In The East”, não podemos negar que o Judas Priest no palco, ao vivo, é imperdível e faz valer o ingresso. Isso é um fato tão atual quanto há 35 anos. Que os caras aportem por aqui para fazerem shows de divulgação do novo trabalho – “Redeemer Of Souls”.

A seguir, a ficha técnica e o tracklist do play.

Álbum: Unleashed In The East / Live In Japan
Intérprete: Judas Priest
Lançamento: 17 de setembro de 1979
Gravadora: Columbia
Produtores: Tom Allom e Judas Priest

Rob Halford: voz
K.K. Downing: guitarra
Glenn Tipton: guitarra
Ian Hill: baixo
Les Binks: bateria

1. Exciter (Halford / Tipton)
2. Running Wild (Tipton)
3. Sinner (Halford (Halford / Tipton)
4. The Ripper (Tipton)
5. The Green Manalishi (With The Two Pronged Crown) (Green)
6. Diamonds And Rust (Baez)
7. Victim Of Chances (Atkins / Halford / Downing / Tipton)
8. Genocide (Halford / Downing / Tipton)
9. Tyrant (Halford / Tipton)
EP bônus japonês / faixas bônus (relançamento em CD – 2001):
10. Rock Forever (Halford / Downing / Tipton)
11. Delivering The Gods (Halford / Downing / Tipton)
12. Hell Bent For Leather (Tipton)
13. Starbreaker (Halford / Downing / Tipton)

Por Jorge Almeida

Judas Priest: 40 anos de “Rocka Rolla”

"Rocka Rolla": o esquecido 'debut' do Judas Priest
“Rocka Rolla”: o esquecido ‘debut’ do Judas Priest

Ontem, 6 de setembro, marcou o 40º aniversário do lançamento do trabalho de estreia dos ingleses do Judas Priest. Estou me referindo a “Rocka Rolla”, que foi produzido por Rodger Bain, conhecido por produzir os três primeiros álbuns do Black Sabbath que, assim como o Priest, é da cidade de Birmingham.

Gravado entre junho e julho de 1974 nos estúdios ingleses Island, Trident e Olimpic, “Rocka Rolla” foi, de acordo com os músicos da banda, gravado “ao vivo” nos estúdios, ou seja, todos eles tocavam ao mesmo tempo ao invés do habitual processo de gravação onde cada um grava a sua parte e, no final, tudo é mixado. Segundo a banda, por conta de problemas técnicos no estúdio, o resultado do som saiu com má qualidade.

A história do Judas Priest pode ser considerada que começou em 1969 quando  Al Atkins (vocais), John Perry (guitarras), Bruno Stapenhill (baixo) e John Partridge (bateria) com o nome Al Atkins’ Judas Priest. O nome do grupo foi inspirado em uma música de Bob Dylan – “The Ballad Of Frank Lee And Judas Priest”. Ainda em 1969, Ernie Chataway entrou no lugar de Perry.

No entanto, entre junho e novembro de 1970, a banda ficou inativa. Mas, em outubro do mesmo ano Al Atkins reativou o grupo – mas só com o nome que permanece até hoje – com novos integrantes: K. K. Downing nas guitarras, Ian Hill no baixo e John Ellis na bateria. Então, como toda banda iniciante, as constantes saídas de integrantes fez parte do Judas Priest em seus primeiros anos. Pelo menos dessa vez, eles tinham uma base – Atkins/Downing/Hill.

Todavia, em 1973, Al Atkins deixou o grupo e, para seu lugar, Rob Halford foi recrutado, enquanto John Hinch substituiu John Ellis. A banda, então, aproveitou as composições de Atkins que ficaram boas na voz de Halford. Então, com a formação composta por Rob Halford (vocal), K.K. Downing e Glenn Tipton (guitarras), Ian Hill (baixo) e Alan Moore (bateria), o Judas gravou o seu ‘debut’. O grupo, durante alguns anos, não saiu do underground, mas conseguiu juntar uma legião de fãs e de bandas que copiavam o seu estilo. Aliás, a musicalidade do Priest mesclava a letra e o som pesado do Black Sabbath e à velocidade do Deep Purple. Além disso, eles foram os precursores da adoção de roupas de couro com adereços de metal cromado e correntes. Enfim, o Judas Priest inovou e foi um dos pioneiros do Heavy Metal moderno (ao lado do Motörhead) do que viria a ser o NWOBHM – New Wave Of British Heavy Metal.

Além de Rob Halford, no lugar de Atkins, o Judas Priest passou a ter mais um guitarrista, Glenn Tipton, que se juntou aos demais para a gravação de “Rocka Rolla”. Ele só colaborou na faixa-título, pois o produtor Rodger Bain vetou os temas propostos por Tipton, como “Tyrant”, “Epitaph” e “The Ripper”, que viriam a ser gravadas em trabalhos posteriores. E, após o lançamento do álbum, foi a vez de John Hinch abandonar a banda e ser substituído por Alan Moore.

O álbum teve vendagens decepcionantes, apenas “alguns milhares de cópias”. E, devido ao fracasso do disco, a banda encontrou sérias dificuldades financeiras, a tal ponto que nem eles saberiam quando fariam a próxima refeição. Tentaram entrar em acordo com a Gull Records para receber pelo menos 50 libras por semana, porém, a Gull também vinha de problemas financeiros e recusou a proposta.

O tracklist do disco é composto por faixas que tem fortes influências de Black Sabbath, do Deep Purple – como “One For The Road”, “Winter”, “Deep Freeze” e “Winter Retreat”, por exemplo -, algumas coisas com pitadas progressivas, como em “Dying To Meet You”. Enquanto isso, faixa como “Cheater”, aponta como indício do que viria ser o rumo que o grupo tomaria ao longo dos anos. E a faixa-título é uma “mistureba” de referências: de Deep Purple a Beatles da fase “Magical Mystery Tour”.

A capa leva a assinatura de John Pasche, que aproveitou o título do álbum para fazer um “trocadilho” e colocar uma tampa de refrigerante com a fonte característica da Coca-Cola.

Embora seja um bom disco de Hard Rock, “Rocka Rolla” não entrou no rol de clássicos dos Metal Gods cultuados pelos apreciadores de Heavy Metal. Isso se deve pela troca de gravadoras e também pelo fato dos caras, ao longo dos anos, deixarem de tocar temas do álbum ao longo dos anos, o que fez com que ele fosse mais apreciado por fanáticos. Mas é um disco bem interessante de se ouvir.

Abaixo, a ficha técnica e o tracklist do play.

Álbum: Rocka Rolla
Intérprete: Judas Priest
Lançamento: 6 de setembro de 1974
Gravadora: Gull Records
Produtor: Rodger Bain

Rob Halford: voz e gaita
K.K. Downing: guitarra
Glenn Tipton: guitarra e sintetizador
Ian Hill: baixo
John Hinch: bateria

  1. One For The Road (Halford / Downing)
  2. Rocka Rolla (Halford / Downing / Tipton)
  3. Winter (Atkin / Downing / Hill)
  4. Deep Freeze (Dowing)
  5. Winter Retreat (Halford / Downing)
  6. Cheater (Halford / Downing)
  7. Never Satisfied (Atkins / Downing)
  8. Run Of The Mill (Halford / Downing / Tipton)
  9. Dying To Meet You/Hero, Hero (Halford / Downing)
  10. Caviar And Meths (Atkins / Downing / Hill)

Por Jorge Almeida

Judas Priest: 30 anos de “Defenders Of The Faith”

"Defenders Of The Faith": considerado por parte da crítica como uma espécie de "Screaming For The Vengeance II"
“Defenders Of The Faith”: considerado por parte da crítica como uma espécie de “Screaming For The Vengeance II”

O clássico “Defenders Of The Faith”, dos britânicos do Judas Priest completa 30 anos hoje, dia 4 de janeiro. Gravado entre setembro e novembro de 1983 no Ibiza Sound Studios, em Ibiza, Espanha, o mesmo estúdio utilizado na produção do trabalho anterior (“Screaming For The Vengeance”), e também no DB Recording Studios e no Bayshore Recording Studios, em Coconut Grove, em Miami, Flórida, o disco – o nono da discografia dos Metal Gods – também teve o mesmo produtor do álbum de 1982: Tom Allom.

A princípio, o lançamento em fita K7 e LP aconteceu em 4 de janeiro, mas a versão em CD ocorrera em julho de 1984 e, posteriormente, em maio de 2001, em uma edição remasterizada.

O álbum é caracterizado pelo som pesado, rápido, harmônico, pelo desempenho das ótimas guitarras da dupla Glenn Tipton e K. K. Downing e o vocal de Rob Halford que dispensa comentários. Na época, alguns críticos apelidaram “Defenders Of The Faith” de “Screaming For The Vengeance II” em função da semelhança sonora que o álbum tinha em relação ao trabalho anterior.

Mas, certamente, os pontos altos do play são “Love Bites”, “Freewheel Burning”, que ganharam videoclipes, e “Some Heads Are Gonna Roll”, que juntamente com as citadas anteriormente, foram lançadas como single.

O disco não imune às polêmicas por conta da emblemática faixa “Eat Me Alive”, que ficou em terceiro lugar da Parentes Music Resource Center (PMRC) na lista de canções ofensivas, uma vez que a faixa, supostamente, incentivava a prática do sexo oral na mira de uma arma. Em resposta às acusações, o Priest gravou a canção “Parental Guidance” no álbum “Turbo” (1986).

Além disso, o tema “Jawbreaker” foi regravado pelo Rage no single “Higher Than The Sky” (1996) e também no tributo “A Tribute To Judas Priest: Legends Of Metal” (1997) e no CD Bônus do DVD “Metal Meets Classic Alive” (2001) intitulado “All G.U.N. Bonustrack”.

Outra faixa que foi “coverizada”, mas pelo Machine Head, foi “The Sentinel”, que a regravou na edição “Deluxe” do álbum “Unto The Locust” (2011).

Na turnê do álbum, o Judas Priest tocou todas as músicas do disco ao vivo, exceto “Eat Me Alive”, que foi executada pela banda apenas na turnê de “Nostradamus” (2008), ocasião em que o grupo tocou diversas músicas que nunca haviam sido tocadas ao vivo antes. Isso fez com que “Defenders Of The Faith” fosse o segundo álbum do Priest a ter todas as músicas tocadas ao vivo – o primeiro foi “Rocka Rolla” (1974).

E foi nesta turnê que, em 13 de julho de 1985, que o Judas Priest, juntamente com diversos artistas, tocaram no Live Aid. Halford e sua trupe tocaram no JFK Stadium, na Filadélfia. Na ocasião, o curto setlist foi composto por “Living After Midnight”, “The Green Manalishi (With The Two-Pronged Crown)” e “You’ve Got Another Thing Comin’”.

Esse álbum certamente tem que ter o seu lugar especial na sua “CDteca”. E vê se não sai quebrando tudo assim que ouvir a primeira faixa. Mais que recomendado.

A seguir, a ficha técnica e o tracklist do play.

Álbum: Defenders Of The Faith
Intérprete: Judas Priest
Lançamento: 4 de janeiro de 1984
Gravadora: Columbia
Produtor: Tom Allom

Rob Halford: voz
Glenn Tipton: guitarras
K. K. Downing: guitarras
Ian Hill: baixo
Dave Holland: bateria

1. Freewheel Burning (Halford / Downing / Tipton)
2. Jawbreaker (Halford / Downing / Tipton)
3. Rock Hard Ride Free (Halford / Downing / Tipton)
4. The Sentinel (Halford / Downing / Tipton)
5. Love Bites (Halford / Downing / Tipton)
6. Eat Me Alive (Halford / Downing / Tipton)
7. Some Heads Are Gonna Roll (Bob Halligan Jr.)
8. Night Comes Down (Halford / Downing / Tipton)
9. Heavy Duty (Halford / Downing / Tipton)
10. Defenders Of The Faith (Halford / Downing / Tipton)
Faixa bônus:
11. Turn On You Ligth (Halford / Downing / Tipton)

Por Jorge Almeida

Judas Priest: 35 anos de “Killing Machine/Hell Bent For Leather”

"Killing Machine" ou "Bent For The Leather": apesar de ser mais comercial, ainda manteve a agressividade dos Metal Gods
“Killing Machine” ou “Bent For The Leather”: apesar de ser mais comercial, ainda manteve a agressividade dos Metal Gods

Ontem, 9 de outubro, marcou o 35º aniversário do álbum “Killing Machine”, o quinto trabalho de estúdio da banda Judas Priest. Pelo menos a versão britânica, já que a edição norte-americana, que recebeu o título de “Hell Bent For Leather”, foi lançada em março de 1979. Gravado entre agosto e setembro de 1978 nos estúdios Utopia e CBS, ambos em Londres, o disco teve a produção assinada pela própria banda em parceria com James Guthrie. E esse foi um dos dois álbuns de estúdios a ter os serviços prestados pelo excelente baterista Les Binks.

Esse registro dos Metal Gods deixou a banda em um estilo mais comercial, porém, manteve os mesmos temas líricos de seus trabalhos anteriores, mas que foi consolidado nas paradas inglesas, embora as canções ficassem mais curtas. Além disso, foi a partir desse momento que Rob Halford e sua trupe adotaram o visual que se mantém até hoje: vestimentas de couro com tachinhas, além da entrada do vocalista ao palco com a sua Harley Davidson, que já viraram marcas registradas.

A Columbia / CBS, responsável pela distribuição do álbum nos EUA, não gostou das “implicações assassinas” no título do play. Por isso que a versão ianque traz outro nome, mas que, assim como “Killing Machine”, é título de música do álbum.

Apesar das letras mais “simplificadas”, a parte instrumental do Judas Priest aqui se manteve agressiva e, ainda, teve influências do Blues elaboradas em algumas músicas. Destaques para as duas “faixas-títulos”, “Burnin’ Up”, “Evil Fantasies”, a festeira “Running Wild”, a balada deprimente “Before The Dawn” e o grande cover do Fleetwood Mac, “The Green Manalishi (With The Two-Proged Crow)”.

Em 2001, o álbum foi remasterizado e acrescido de duas faixas: “Fight For Your Live”, gravada durante as sessões de “Screaming For Vengeance”, e que foi a versão original de “Rock Hard Ride Free”, presente em “Defenders Of The Faith” (1984); e uma versão “live” de “Riding On The Wind”, gravada no Us Festival, em Devore, Califórnia, em 29 de maio de 1983.

Esse é um excelente trabalho para quem quiser conhecer o Priest a partir da fase do “Breakin’ The Law”.

A seguir, a ficha técnica e o tracklist de “Killing Machine” ou, se você preferir, “Hell Bent For Leather”.

Álbum: Killing Machine ou Hell Bent For Leather (nos EUA)
Intérprete: Judas Priest
Lançamento: 9 de outubro de 1978 (versão britânica), março de 1979 (versão norte-americana)
Gravadora: Columbia / CBS
Produtores: Judas Priest e James Guthrie

Rob Halford: voz
K.K. Downing: guitarra
Glenn Tipton: guitarra
Ian Hill: baixo
Les Binks: bateria

Dave Holland: bateria (apenas nas faixas bônus)

1. Delivering The Goods (Halford / Downing /Tipton)
2. Rock Forever (Halford / Downing / Tipton)
3. Evening Star (Halford / Tipton)
4. Hell Bent For Leather (Tipton)
5. Take On The World (Halford / Tipton)
6. Burnin’ Up (Dowing / Tipton)
7. The Green Manalishi (With The Two-Pronged Crown) (Green)
8. Killing Machine (Tipton)
9. Running Wild (Tipton)
10. Before The Dawn (Halford / Downing / Tipton)
11. Evil Fantasies (Halford / Downing / Tipton)
Faixas bônus:
12. Fight For Your Life (Downing / Halford / Tipton)
13. Riding On The Wind (live) (Dowing / Halford / Tipton)
Por Jorge Almeida