The Rolling Stones: 40 anos de “Still Life”

“Still Life”, álbum ao vivo dos The Rolling Stones, completa 40 anos em 2022

Nesta quarta-feira, 1° de junho, o quarto disco ao vivo dos Rolling Stones, “Still Life“, completa 40 anos de lançamento. Gravado durante a turnê norte-americana da banda entre novembro e dezembro de 1981, enquanto os ‘overdubs’ foram feitos entre março e abril de 1982. O material foi lançado durante a tour europeia do grupo. A produção ficou creditada aos The Glimmer Twins e lançado pela Rolling Stones Records e Atlantic Records.

Os Rolling Stones estavam a desfrutar a sua segunda onda de popularidade, graças à grande aceitação do público e da mídia para “Tattoo You” (1981), o último grande disco de estúdio do grupo, para muitos. Então, para aproveitar a situação, os caras soltaram esse registro ao vivo.

A obra começa com uma pequena ‘intro’, “Take The ‘A’ Train“, canção de 1939 de Billy Strayhorn saindo das PA’s, em seguida, a banda já começa arregaçando com uma versão matadora de “Under My Thumb“, com Richards mandando aqueles riffs matadores e Charlie Watts seguro como sempre. Na sequência, outro clássico ‘stoniano’: a ótima “Let’s Spend The Night Together“, que aqui lembra mais a versão do David Bowie, por estar mais rápida. Os backing vocals decepcionaram aqui, quase inaudíveis. Depois, a obra traz “Shattered“, que é empolgante, mas graças as guitarras entrelaçadas de Ron Wood e Keith Richards, mas quem conduz melhor a canção é o impecável baixo de Bill Wyman. A performance vocal de Jagger deixa um pouco a desejar, pois, ele canta mais acelerado em momentos que ele parece se enrolar nas letras. Posteriormente, o play apresenta uma dobradinha de covers: “Twenty Flight Rock“, de Eddie Cochran, e “Going To A Go-Go“, do The Miracles. Dois clássicos do Blues, enquanto o ouvinte tenta imaginar Jagger correndo de um lado para o outro do palco, Ron e Richards ficam com seus cigarros perenes sorrindo um para o outro e brincando de tocar, mas o desempenho na primeira ficou aquém, apesar de todos os esforços de Ian Stewart no piano.

A segunda parte da obra começa com “Let Me Go“, que apresenta um “duelo” de guitarras bem legal, enquanto a bateria de Watts arrebenta com tudo, um ska maneiríssimo. Essa música, uma faixa obscura de “Emotional Rescue” (1980), só “peca” porque o público pouco participa (na verdade, só aplaudem no final), parecia um tema inédito. Depois, outra dobradinha de covers: “Time Is On My Side“, a love song que Richards manda muito bem no icônico riff melancólico; seguida de “Just My Imagination (Running Away With Me)“, dos The Temptations, ‘coverizado’ pelo grupo em “Some Girls” (1978), que traz um bom trabalho de guitarras. E, claro, dois torpedos para encerrar: “Start Me Up“, que levou o público ao delírio e também quem a ouve; e a obrigatória “(I Can’t Get No) Satisfaction“, que foi executada muito rápida, por sinal. E, enquanto isso, para encerrar, as caixas de som deixaram ecoar “Outro: Star Splangled Banner“, a gravação de Jimi Hendrix.

Aliás, a capa da obra é uma pintura do artista japonês Kazuhide Yamazaki, cujo trabalho inspirou a cenografia extravagante da turnê.

Apesar de não documentar com exatidão o desempenho dos Rolling Stones em 1981 (afinal, é impossível ter um show dos caras com apenas oito músicas), mas o disco é bem representativo de como a banda soava na época, que é aquilo que todos nós sabemos: uma grande banda de Rock ‘N’ Roll ao vivo. Existem outros ‘live’ melhores com certeza, mas esse aqui apresenta uma das melhores fases dos “pedras rolantes”.

A seguir, a ficha técnica e o tracklist da obra.

Álbum: Still Life
Intérprete: The Rolling Stones
Lançamento: 1° de junho de 1982
Gravadora/Distribuidora: Rolling Stones Records / Atlantic Records
Produtores: The Glimmer Twins

Mick Jagger: voz e guitarra
Keith Richards e Ronnie Wood: guitarras e backing vocal
Bill Wyman: baixo
Charlie Watts: bateria

Ian McLagan: teclados
Ian Stewart: piano
Ernie Watts: saxofone

1. Intro: Take The ‘A’ Train (Strayhorn)
2. Under My Thumb (Jagger / Richards)
3. Let’s Spend The Night Together (Jagger / Richards)
4. Shattered (Jagger / Richards)
5. Twenty Flight Rock (Cochran / Fairchild)
6. Going To A Go-Go (Robinson / Moore / Rogers / Tarplin)
7. Let Me Go (Jagger / Richards)
8. Time Is On My Side (Meade)
9. Just My Imagination (Running Away With Me) (Whitfield / Strong)
10. Start Me Up (Jagger / Richards)
11. (I Can’t Get No) Satisfaction (Jagger / Richards)
12. Outro: Star Spangled Banner (Trad. / Arr.: Hendrix)

Por Jorge Almeida

Analisando “A Bigger Bang: Live On Copacabana Beach”, dos Rolling Stones

“A Bigger Bang Live On Copacabana Beach”, dos Rolling Stones, lançado em 2021, mas que traz a inesquecível performance do grupo em 2006 na Praia de Copacabana

Sim, amigos, demorou mais de seis meses, mas consegui conferir esse registro ao vivo dos Rolling Stones. Em 9 de julho de 2021, os britânicos lançaram o CD duplo, DVD intitulado e vinil “A Bigger Bang: Live On Copacabana Beach“, que contém a histórica apresentação do grupo na praia de Copabacana, no Rio de Janeiro, em 18 de fevereiro de 2006, diante de mais de um milhão e meio de expectadores que viram a performance dos veteranos “na faixa”. Lançado pela Mercury Records, o material também está disponível nas plataformas digitais.

Vale ressaltar que o show fora originalmente lançado em DVD em 2007 como “The Biggest Bang“. A diferença para esse novo lançamento é que, além de trazer quatro temas que não estavam na primeira versão – “Tumbling Dice“, “Oh No, Not You Again“, “This Place Is Empty” e “Sympathy For The Devil” -, o material foi remixado, reeditado, remasterizado e também a variedade de formatos em que o material foi lançado. Logo, esse material contém o show completo.

A edição Deluxe contém um livreto de 40 páginas, com o show feito em Copacabana em DVD e CD duplo, além de um DVD bônus, exclusivo, que contém uma apresentação realizada em Salt Lake City, em 2005, da mesma turnê.

Quem se lembra, na época, o show da banda, que teve a abertura dos Titãs, foi épico. A começar pela imensa quantidade de pessoas: com gente saindo de tudo quanto é lugar, na terra e na água, em uma noite agradável. As imagens mostram desde o momento em que os músicos saíram do Copacabana Palace Hotel atravessando a passarela construída exclusivamente para o deslocamento dos músicos até o palco. E, ali, o quarteto composto por Mick Jagger, Keith Richards, Ronnie Wood e o já saudoso Charlie Watts, acompanhados por diversos músicos de apoio nos metais, teclados, backing vocal e o baixo onipresente de Daryl Jones, para levar duas horas de puro Rock And Roll e justificarem porque são considerados a maior banda de rock da história.

Quanto ao repertório, a apresentação foi praticamente um “greatest hits live”, na maioria só clássicos: desde a abertura, com “Jumpin’ Jack Flash“, passando por “It’s Only Rock ‘N’ Roll (But I Like It)“, “Tumbling Dice“, com um ótimo trabalho dos backing vocals e do piano, e Charlie Watts conduzindo a batida de sua bateria enquanto Richards e Wood “teciam” suas guitarras, um dos momentos mais épicos do show foi protagonizado por “Wild Horses“, com Keith Richards usando a sua Guild de 12 cordas na emotiva faixa clássica de 1971. E, entre um diálogo e outro com o público, Jagger arriscava algumas expressões em português, sempre destoando de sua boa forma física e justificando porque sempre é considerado uma das maiores lendas do rock. E, depois de mais alguns torpedos ‘stonianos’, o CD 1 termina com uma trinca avassaladora: primeiro com “Night Time Is The Right Time“, um R&B de Nappy Brown, de 1957, (creditada estranhamente para St. Louis Jimmy Oden!?) e que ficou célebre na versão gravada por Ray Charles e, depois, também por James Brown, aliás, aqui vale destacar o cabuloso vocal de Lisa Fischer na parte final da música, além de duas faixas cantadas por Keith Richards: “This Place Is Empty” e “Happy“.

E o desfiladeiro de clássicos não para no CD 2, com “Miss You” dando as caras logo de início e, um pouco mais à frente, uma sequência arrebatadora de hinos: “Get Off Of My Cloud“, “Honky Tonk Women“, “Sympathy For The Devil“, “Start Me Up“, que foi uma das mais aclamadas da noite, assim como “Brown Sugar“. Por fim, os Stones mandaram “You Can’t Always Get What You Want” e, claro, “(I Can’t Get No) Satisfaction“. Afinal, o cara ir a um show dos Rolling Stones e não ouvir essa música é como ir ao Vaticano e não ver o Papa.

Em “A Bigger Bang: Live On Copacabana Beach” brinda o ouvinte/telespectador com um show fabuloso de uma banda que moldou o rock and roll. E, na época, os caras já estavam na casa dos 60 anos (só Ronnie Wood que ainda não tinha chegado às seis décadas, mas estava perto), mas a idade avançada não foi empecilho para os britânicos doarem tudo de si naquela apoteótica apresentação na praia. O ponto baixo do álbum? Sim, pelo menos para este que vos escreve, foi a ausência de “Paint It Black“, mas aí é do gosto de cada um. No geral, o registro recomendo sem hesitar.

O que mais lamento, sinceramente, é que não pude ir ao show na ocasião por conta de um relacionamento que tinha época. No final, tive um prejuízo em dobro: não vi o show in loco e não estou com essa namorada. Espero que, mesmo sem Watts conosco, espero que os Stones ainda voltem ao Brasil e consiga vê-los.

A seguir, a ficha técnica e o tracklist da obra.

Álbum: A Bigger Bang: Live On Copacabana Beach
Intérprete: The Rolling Stones
Lançamento: 9 de julho de 2021
Gravadora/Distribuidora: Mercury Records
Produtor: Michael Cohl
Preço Médio: R$ 120,00 (CD duplo)

Mick Jagger: voz e gaita
Keith Richards: guitarra, violão, backing vocal e voz em “This Place Is Empty” e “Happy”
Ron Wood: guitarras
Charlie Watts: bateria

Darryl Jones: baixo e backing vocal
Chuck Leawell: teclados e backing vocal
Blondie Chaplin: percussão e backing vocal
Kent Smith: trompete
Michael Davis: trombone
Tim Ries: saxofone e teclados
Bobby Keys: saxofone
Bernard Fowler e Lisa Fischer: backing vocals

CD 1:
1. Intro / Jumpin’ Jack Flash (Jagger / Richards)
2. It’s Only Rock ‘N’ Roll (But I Like It) (Jagger / Richards)
3. You Got Me Rocking (Jagger / Richards)
4. Tumbling Dice (Jagger / Richards)
5. Oh No, Not You Again (Jagger / Richards)
6. Wild Horses (Jagger / Richards)
7. Rain Fall Down (Jagger / Richards)
8. Midnight Rambler (Jagger / Richards)
9. Night Time Is The Right Time (N. Brown)
10. This Place Is Empty (Jagger / Richards)
11. Happy (Jagger / Richards)

CD 2:
1. Miss You (Jagger / Richards)
2. Rough Justice (Jagger / Richards)
3. Get Off Of My Cloud (Jagger / Richards)
4. Honky Tonk Women (Jagger / Richards)
5. Sympathy For The Devil (Jagger / Richards)
6. Start Me Up (Jagger / Richards)
7. Brown Sugar (Jagger / Richards)
8. You Can’t Always Get What You Want (Jagger / Richards)
9. (I Can’t Get No) Satisfaction (Jagger / Richards)

Por Jorge Almeida

Rolling Stones: 55 anos de “Got Live If You Want It!”

“Got Live If You Want It!”, álbum ao vivo dos Rolling Stones lançado exclusivamente no mercado norte-americano, completa 55 anos em 2021

Nesta sexta-feira (10), o primeiro disco ao vivo dos Rolling Stones, “Got Live If You Want It!“, foi gravado entre 1963 e 1966 em diversos locais da Inglaterra e foi lançado exclusivamente nos Estados Unidos pela London Records e a produção ficou a cargo de Andrew Loog Oldham. O lançamento da obra foi uma tentativa da gravadora preencher uma lacuna de marketing entre os discos de estúdios da banda e capitalizar a popularidade no mercado dos Estados Unidos, que foi intensificada depois da bem-sucedida turnê do álbum “Aftermath” (1966). O nome da obra veio do EP ao vivo de mesmo nome lançado em 1965 apenas no Reino Unido, cujo nome foi inspirado em “I’ve Got Love If You Want It“, de Slim Harpo, de 1957.

Originalmente, a ideia do projeto era registrar um show dos Stones na íntegra realizado em 23 de setembro de 1966 no Royal Albert Hall, porém, em vários momentos da apresentação, Mick Jagger foi atacado por várias garotas da plateia, chegando a interromper o show. Então, o produtor e empresário da banda, Andrew Loog Oldham, deixou a ideia de lado e pegou alguns registros dos tempos em que o grupo ainda não causava histeria coletiva, especialmente entre os adolescentes, com um trecho de um show feito no City Hall, algumas no concerto do Colston Hall, em Bristol, além de uma ou outra gravada em estúdio por conta da qualidade dos ‘overdubs’.

Apesar de o encarte informar que o álbum fora gravado no Royal Albert Hall, em uma turnê do grupo pela Inglaterra com Ike e Tina Turner e os Yardbirds, mas como dito acima, boa parte dele foi feito em Newcastle e Bristol, além de Liverpool e Manchester. Inclusive, a faixa “I’ve Been Loving You Too Long” foi gravado em Los Angeles e depois regravado no IBC Studios, em Londres, local em que “Fortune Teller” também foi gravado.

Curiosamente, na faixa de abertura da obra, “Under My Thumb“, a versão do LP é diferente em relação ao CD, enquanto no long play dava para ouvir a voz do cantor Long John Baldry.

Quanto ao repertório, Mick Jagger e sua turma apresentam um verdadeiro ataque musical frenético e intenso das faixas que, ao longo do tempo se tornariam clássicas, como a já citada “Under My Thumb“, que abre a obra. A gravação da canção foi retirada de uma performance realizada em 1° de outubro de 1966, no City Hall, em Newcastle, e na ‘intro’ já dá para termos uma ideia do frisson que os caras causavam, especialmente entre o público feminino, apesar de ser bem aparente que o ruído da multidão seja artificial. E, entre uma pedrada aqui e outra ali, a banda quebra o andamento da intensidade do registro com a ótima “Lady Jane” que, segundo Bill Wyman, precisou ser retocada no estúdio para corrigir eventuais defeitos de captação das apresentações, ou seja, já manjado ‘overdubs’, técnica que não é exclusiva dos Rolling Stones. Mas os pontos altos do registro ficam por conta da, essa sim, clássica “(I Can’t Get No) Satisfaction“, que encerra o disco, e “Have You Seen Your Mother…“.

A principal crítica dos especialistas em relação à obra é que as performances do grupo foram desleixadas, apesar de serem cheias de tensão e força, uma vez que a qualidade baixa da gravação e a duplicação do ruído artificial da multidão em algumas canções como “preenchimento” fazendo praticamente como um “instrumento” adicional às canções.

Apesar de todos os percalços no que acerca a gravação do disco, a obra alcançou a sexta posição na parada de discos dos Estados Unidos e ficou na lista dos mais vendidos por quase um ano. E, mesmo assim, por conta das limitações técnicas de gravação, os músicos da banda não gostaram do resultado final e, por isso, sempre se referiram a “Get Yer Ya-Ya’s Out! The Rolling Stones In Concert” (1970), como o “primeiro álbum ao vivo” dos Rolling Stones.

Vale ressaltar que, para o mercado europeu, fora do Reino Unido, a Decca Records lançou cópias limitadas da obra, o que faz do disco ser um dos mais cobiçados dos Stones para colecionadores.

A capa da obra apresenta várias fotos da banda que foram captadas por Gered Mankwitz, que acompanhou o grupo durante as turnês norte-americanas em 1965 e 1966 a pedido dos caras.

Em 1986, a obra foi lançada em CD, com a supervisão de Allen Klein. Contudo, a reedição saiu atrasada, em relação ao todo o catálogo do grupo até então, porque Klein teve problemas em localizar as fitas multi-track originais. Depois, em 2002, o álbum foi relançado novamente em CD remasterizado e também em SACD digipack e, inclusive, nessa versão é que “Under My Thumb” tem a introdução diferente do original.

Sinceramente, apesar das qualidades das gravações não serem tão boas, esse registro vale a pena pelo seu contexto histórico, mas só para quem é fanático pela banda e que curte essa fase mais “R&B” dos Rolling Stones, uma vez que os caras lançaram diversos outras obras ao vivo que são até melhores que esse. Em suma, se tiver algumas bagatelas sobrando, vale o investimento. Porém, quem tiver o LP original na coleção, aí sim, terá uma verdadeira preciosidade, pois, é um registro muito cobiçado pelos mais aficionados do grupo britânico.

A seguir, a ficha técnica e o tracklist da obra.

Álbum: Got Live If You Want It!
Intérprete: Rolling Stones
Lançamento: 10 de dezembro de 1966
Gravadora: London Records
Produtor: Andrew Loog Oldham

Mick Jagger: voz e pandeiro
Keith Richards: guitarra, violões e backing vocal
Brian Jones: guitarra base
Bill Wyman: baixo
Charlie Watts: bateria

Ian Stewart: órgão
Jack Nitzsche: piano

1. Under My Thumb (Jagger / Richards)
2. Get Off Of My Cloud (Jagger / Richards)
3. Lady Jane (Jagger / Richards)
4. Not Fade Away (Petty / Hardin)
5. I’ve Been Loving You Too Long (Redding / Butler)
6. Fortune Teller (Neville)
7. The Last Time (Jagger / Richards)
8. 19th Nervous Breakdown (Jagger / Richards)
9. Time Is On My Side (Meade)
10. I’m Alright (McDaniel)
11. Have You Seen Your Mother, Baby, Standing In The Shadow? (Jagger / Richards)
12. (I Can’t Get No) Satisfaction (Jagger / Richards)

Por Jorge Almeida

Rolling Stones: 40 anos de “Tattoo You”

“Tattoo You”, clássico álbum dos Rolling Stones, que completa 40 anos em 2021

Se a partir de hoje, o dia 24 de agosto ficou marcado negativamente para os fãs dos Rolling Stones em virtude da morte do baterista Charlie Watts, a data remete também aos 40 anos do lançamento do álbum “Tattoo You“, o 16° álbum de estúdio (da discografia britânica) ou o 18° da discografia norte-americana, dos Rolling Stones. Lançado pela Rolling Stones Records, a obra foi produzida pelos The Glimmer Twins. Na verdade, o álbum não teve um processo convencional de a banda reservar um período para escrever e gravar um material novo para entrar no estúdio, mas sim de takes/demos de sessões de gravações anteriores, que ganharam novos vocais e ‘overdubs’. Afinal, há faixas que foram originalmente em diversos períodos, entre 1972 e 1981.

Depois da exaustiva turnê de “Emotional Rescue” (1980), os Rolling Stones receberam uma excelente proposta para realizar uma mega turnê pelos Estados Unidos tocando apenas em estádios. Contudo, como a banda não estava com nenhum disco novo na praça (já que a turnê de “Emotional” havia sido encerrada), os músicos estavam cansados, sem muita inspiração para compor material novo, sem contar que a situação estava um pouco turbulenta entre Mick Jagger e Keith Richards, a solução foi reunir diversas canções gravadas em demos que estavam guardadas, dar uma repaginada no material, tanto que há material que foi gravado durante as sessões de “Goats Head Soup” (1973) quando a banda tinha Mick Taylor na sua formação, até as sobras de “Emotional Rescue“, passando ainda por “Black And Blue” (1976) e “Some Girls” (1978). E o resultado disso foi um espetacular álbum, que foi sabiamente dividido entre rocks e baladas.

A obra começa com a mega clássica “Start Me Up“, uma das músicas mais conhecidas da banda e obrigatória nos shows desde então, com seu riff empolgante que é acompanhada com a voz inconfundível de Mick Jagger. Originalmente, a canção tinha o título provisório de “Never Stop” com influências de Reggae feita durante as sessões de “Some Girls“, mas foi retrabalhada e, sem exagero, tornou-se tão conhecida como “Satisfaction“. A faixa dois é uma das minhas favoritas: “Hang Fire“, que mantém o pique animado do álbum, chegando a ser mais enérgica e frenética, certamente, o destaque fica por conta da presença dos vocais femininos soltando os “doo, doo, doo, doo…” no melhor estilo Soul Music, outra que foi “sobra” do álbum anterior. Sensacional. O terceiro tema é “Slave“, que tem a presença constante da bateria do já saudoso Charlie Watts, com o riff mais “swingado” de Keith e sendo amparado pelo órgão de Billy Preston, a percussão de Ollie E. Brown e o estupendo solo de sax do jazzista Sonny Rolins (que fez ‘overdub’ na música). A versão que saiu em LP tem quase cinco minutos, enquanto a edição remasterizada em CD tem um pouco mais de 6’30”. Depois, em “Little T&A“, é a vez de Richards assumir os vocais em uma típica composição sacana dos caras. Nela, o guitarrista “homenageia” todas as mulheres que ele conheceu em suas viagens pelo mundo afora. Ela tem um refrão que impregna na cabeça. A faixa cinco é “Black Limousine“, uma volta às origens stonianas com um Blues poderoso e um solo de gaita bem legal. E o lado A termina com “Neighbours“, que mostra o potencial de Watts na marcação da bateria e um outro excelente riff de Richards.

A segunda parte de “Tattoo You” é caracterizado por temas mais leves. A começar por “Worried About You“, uma balada em que Jagger, além de tocar piano, canta em um falsete quase sussurrante. A guitarra é tocada por Wayne Perkins. Em seguida, o play apresenta “Tops“, outra balada, com um refrão contagiante e uma letra bonita. Quem divide as guitarras com Keith é Mick Taylor, uma vez que ela foi gravada durante as sessões de “GHS” (1973), ou seja, Ronnie Wood ainda não era um ‘stone’. Posteriormente, temos “Heaven“, outra balada, mas com a guitarra cheia de efeitos tocadas por Jagger, tem um andamento bem ‘swingado’ também. Aliás, é uma típica música agradável de ouvir durante a madrugada voltando do rolê. A penúltima faixa é a malevolente “No Use In Crying“, com os violões dando lugar para as guitarras limpas da dupla Richards/Wood, que trabalharam muito bem. E, para encerrar, outra grande balada, uma das melhores da banda, “Waiting On A Friend“, que tem uma pegada folk e também tem outra ótima presença de um solo de saxofone.

Não obstante, no próximo dia 22 de outubro, será lançado a edição comemorativa de 40 anos do álbum que incluirá, além das faixas originais, nove músicas inéditas (entre elas, “Living In The Heart Of Love”, que saiu no último dia 19 de agosto) e o registro de um show realizado em Londres, em 1982.

Vale registrar que o single de “Start Me Up” ficou no Top 10 das paradas dos Estados Unidos e do Reino Unido, o que colaborou para que o álbum alcançasse o topo das paradas em solo ianque e o segundo lugar na terra da Rainha. Para muitos, é considerado o último grande álbum da banda. Bom, se é ou não, fica a critério de cada um, mas o fato é que “Tattoo You” foi o último álbum da banda a alcançar tais colocações nas paradas e contribuiu para os Stones fizessem apresentações com vendas esgotadas nos estádios norte-americanos (como planejado) entre outubro e novembro daquele ano. É um discaço, de fato, vale ganhar tempo ouvindo a obra a cada segundo. Não só recomendo, como acredito que seja um disco que não pode faltar na coleção de quem gosta de música.

A seguir, a ficha técnica e o tracklist da obra.

Álbum: Tattoo You
Intérprete: Rolling Stones
Lançamento: 24 de agosto de 1981
Gravadora/Distribuidora: Rolling Stones Records
Produtores: The Glimmer Twins

Mick Jagger: voz (exceto em “Little T&A“, backing vocal (exceto em “Black Limousine“), guitarra em “Heaven” e “Waiting On A Friend” e percussão em “Heaven
Keith Richards: guitarra (exceto em “No Use In Crying“, backing vocal (exceto em “Black Limousine“, “Tops” e “Waiting On A Friend“; voz e baixo em “Little T&A
Ronnie Wood: guitarra (exceto em “Slave“, “Worried About You“, “Tops“, “Heaven” e “Waiting On A Friend“) e backing vocal em “Start Me Up“, “Hang Fire”, “Little T&A“, “Neighbours” e “No Use In Crying
Bill Wyman: baixo (exceto em “Little T&A“), guitarras, sintetizador e percussão em “Heaven
Charlie Watts: bateria

Mick Taylor: guitarra em “Tops” e “Waiting On A Friend
Nick Hopkins: piano em “Tops“, “No Use In Crying” e “Waiting On A Friend” e órgão em “No Use In Crying
Ian Stewart: piano em “Hang Fire“, “Little T&A“, “Black Limousine” e “Neighbours
Ollie E. Brown: percussão em “Slave” e “Worried About You
Billy Preston: teclados em “Slave” e “Worried About You
Wayne Perkins: guitarra em “Worried About You
Sonny Rollins: saxofone em “Slave“, “Neighbours” e “Waiting On A Friend
Jimmy Miller: percussão em “Tops
Pete Townshend: backing vocal em “Slave
Sugar Blue: gaita em “Black Limousine
Barry Sage: palmas em “Start Me Up
Chris Kimsey: piano elétrico em “Heaven
Michael Carabello: cowbell em “Start Me Up“, conga em “Slave“, güiro, claves, cabaça e conga em “Waiting On A Friend

1. Start Me Up (Jagger / Richards)
2. Hang Fire (Jagger / Richards)
3. Slave (Jagger / Richards)
4. Little T&A (Jagger / Richards)
5. Black Limousine (Jagger / Richards / Wood)
6. Neighbours (Jagger / Richards)
7. Worried About You (Jagger / Richards)
8. Tops (Jagger / Richards)
9. Heaven (Jagger / Richards)
10. No Use In Crying (Jagger / Richards / Wood)
11. Waiting On A Friend (Jagger / Richards)

Por Jorge Almeida

The Rolling Stones: 45 anos de “Black And Blue”

“Black And Blue”, disco dos Rolling Stones que marca a estreia de Ronnie Wood na banda, completa 45 anos em 2021

Além de “Sticky Fingers”, outro álbum dos Rolling Stones que aniversaria hoje é “Black And Blue”, que faz exatos 45 anos. É o disco que marca a estreia de Ronnie Wood no grupo. Gravado entre dezembro de 1974 e abril de 1975, tendo ainda outro período de outubro de 1975 a fevereiro de 1976 para fazer ‘overdubs’, a obra foi gravada no Musicland Studio, em Munique; na unidade móvel dos Rolling Stones, em Roterdã; e no Mountain Records, em Montreux, na Suíça. O material saiu pela Rolling Stones Records e a produção ficou a cargo dos The Glimmer Twins, ou seja, Mick Jagger e Keith Richards.

Em dezembro de 1974, os Rolling Stones se preparavam para entrar em estúdio para a gravação do sucessor de “It’s Only Rock ‘N’ Roll” (1974). A proposta do grupo era lançar o disco no verão (no Hemisfério Norte) de 1975, para seguir em turnê pelos Estados Unidos.

Porém, às vésperas de entrarem em estúdio, o guitarrista Mick Taylor informou que estaria deixando a banda, sem dar maiores satisfações, apenas alegou insatisfação artística. O anúncio da saída do músico deixou todos perplexos e irritados, especialmente Keith Richards. Então, para não perderem tempo, os caras aproveitaram algumas sessões de gravação para, ao mesmo tempo, fazer testes de audição para encontrar um novo guitarrista para o grupo.

Nomes de peso estiveram entre os aspirantes, como Peter Frampton, Eric Clapton, Rory Gallagher, Wayney Perkins, Harvey Mandel e Ronnie Wood, sendo que este último já havia tocado com os Stones na faixa “It’s Only Rock ‘N’ Roll (But I Like It)”, do disco anterior. Então, o ex-guitarrista do Faces e do Jeff Beck Group ficou com a vaga. O estilo de Wood se encaixou muito bem ao de Keith, contudo, o novo stone gravou da metade das músicas do álbum, principalmente nos vocais de apoio. Além de sua participação, seus “concorrentes” Mandel e Perkins tiveram suas participações, que foram feitas nos testes, gravadas no álbum.

Apesar de ter sido efetivado como integrante oficial do grupo, Ronnie Wood não dividiria igualmente os grandes lucros obtidos pelos demais músicos por contratos e turnês, mas sim receberia um (alto) salário. Porém, a situação mudou em 1993, quando ele passou a ter os mesmos direitos com os demais Stones, após a saída de Bill Wyman. Outro fator também que ajudou na escola de Ronnie foi o fato dele ter as mesmas influências bluseiras de Richards, além da amizade de longa data, inclusive na camaradagem nas bebedeiras.

Além da saída de Taylor, outro momento embaraçoso que o grupo passou na época foi provocado pelos outdoors de lançamento do disco: colocaram uma imagem de uma mulher amarrada (a modelo Anita Russell) e pendurada no teto, cheia de hematomas, sentada de pernas abertas e em cima de uma foto do disco, com a seguinte frase: “I am ‘Black And Blue’ for the Rolling Stones – and I love it!”, algo do tipo: “Eu estou de ‘Preta e Azul’ pelos Rolling Stones – e eu amo isso!”. Evidentemente que a peça publicitária repercutiu negativamente, ainda mais em um período em que o movimento feminista crescia absurdamente na Europa, e gerou protestos, especialmente do movimento Women Against Violence Agains Women (Mulheres Contra a Violência contra as Mulheres), que publicou uma carta de repúdio. Apesar disso, de uma forma “involuntária”, a banda ganhou mais visibilidade por conta de algo sério (se nos anos 1970 foi esse rebuliço todo, imagine se lançasse nos dias atuais?). Dias depois, a gravadora da banda tirou cartazes dos outdoors, mas manteve a imagem em alguns pôsteres e revistas.

O pluralismo de convidados, especialmente de guitarristas, teve influência na sonoridade do play, que mostrou-se bem diversificado. O disco abre com “Hot Stuff“, um funk bem grooveado que foi feito em cima de um riff de Richards, com participação de Harvel Mandel na guitarra. A faixa dois é “Hand Of Fate“, um rockão que se encaixou perfeitamente ao vocal de Jagger. Destaque para o ótimo solo de Wayne Perkins. O terceiro tema é “Cherry Oh Baby“, cover de Eric Donaldson. Ao contrário do que costumam fazer quando tocam covers, os Stones não escolheram um Blues ou um Soul, mas sim um Reggae, pois Keith é um admirador do estilo, assim como Jagger, é bem similar à original. E o play finaliza o lado A com “Memory Hotel“, uma balada melancólica com direito a Keith Richards cantando um trecho. Aqui, ele divide as guitarras mais uma vez com Mandel.

A segunda parte do disco começa com “Hey Negrita“, uma faixa com influência do Soul e do Funk, tendo o riff e parte dela feita por Ron Wood, por isso que nos créditos aparece o “inspirado por Ronnie Wood“, assim como a faixa seguinte aparece os dizeres “inspirado por Billy Preston“. Refiro-me a “Melody“, que teve um belíssimo arranjo de piano feito pelo próprio, que ainda auxilia Jagger nos vocais. O penúltimo tema é “Fool To Cry“, outra balada que até fez sucesso e que Jagger inspirou-se na filha Jade que, na época, estava bastante próxima dele. Só acho exagerado o seu longo trecho final, mas gosto dela. E, para finalizar, “Crazy Mama“, que foi, de fato, a primeira música da banda gravada pela nova dupla de guitarristas, traz um rock pungente, bons riffs e belíssimo refrão.

A capa do disco, que trazia foto do quinteto, deixa nítido de quem mandava no grupo, com as imagens de Mick Jagger e Keith Richards ganhando mais destaque em relação aos demais.

No catálogo de discos da banda, “Black And Blue” não está no rol de obras-primas dos Rolling Stones, é um disco mediano, inclusive, as críticas não foram muito favoráveis à obra. No entanto, apesar disso, alcançou o segundo lugar dos charts britânicos e o topo da Billboard 200.

Em 1994, assim como outros álbuns do grupo, “Black And Blue” foi remasterizado e relançado pela Virgin Records e novamente em 2009 pela Universal Music. Além disso, em 2011, saiu uma edição japonesa do álbum em SACD.

Não posso considerar que é um disco imperdível ou obrigatório, mas é um trabalho até bacana de ouvir. Se quiser, pode adquirir, mas não precisa ser prioridade.

A seguir, a ficha técnica da obra.

Álbum: Black And Blue
Intérprete: The Rolling Stones
Lançamento: 23 de abril de 1976
Gravadora/Distribuidora: Rolling Stones Records
Produtores: The Glimmer Twins

Mick Jagger: voz, backing vocal em “Hot Stuff“, “Cherry Oh Baby” e “Memory Hotel“, percussão em “Hot Stuff“, piano em “Memory Hotel“, piano elétrico em “Fool To Cry” e guitarra elétrica “Crazy Mama
Keith Richards: guitarra elétrica (exceto em “Memory Hotel“), backing vocal (exceto em “Melody” e “Fool To Cry“), piano elétrico em “Memory Hotel“, baixo e piano em “Crazy Mama” e voz auxiliar em “Memory Hotel
Bill Wyman: baixo (exceto em “Crazy Mama“) e percussão em “Hot Stuff
Charlie Watts: bateria (todas as faixas) e percussão em “Hot Stuff
Ronnie Wood: guitarra em “Cherry Oh Baby“, “Hey Negrita” e “Crazy Mama“, backing vocal (exceto em “Cherry Oh Baby“, “Melody” e “Fool To Cry“)

Harvey Mandel: guitarra em “Hot Stuff” e “Memory Hotel
Wayne Perkins: guitarra em “Hand Of Fate” e “Fool To Cry” e violão em “Memory Hotel
Billy Preston: piano (exceto em “Cherry Oh Baby“, “Memory Hotel” e “Fool To Cry“), órgão em “Hey Negrita” e “Melody“, sintetizador em “Memory Hotel“, percussão em “Melody” e backing vocal em “Hot Stuff“, “Memory Hotel“, “Hey Negrita” e “Melody
Nicky Hopkins: piano e sintetizador em “Fool To Cry” e órgão em “Cherry Oh Baby
Ollie E. Brown: percussão (exceto em “Memory Hotel“, “Melody” e “Fool To Cry“)
Ian Stewart: percussão em “Hot Stuff
Arif Mardin: arranjos de metais em “Melody

1. Hot Stuff (Jagger / Richards)
2. Hand Of Fate (Jagger / Richards)
3. Cherry Oh Baby (Donaldson)
4. Memory Hotel (Jagger / Richards)
5. Hey Negrita (Jagger / Richards / Inspiração: Wood)
6. Melody (Jagger / Richards / Inspiração: Preston)
7. Fool To Cry (Jagger / Richards)
8. Crazy Mama (Jagger / Richards)

Por Jorge Almeida

The Rolling Stones: 50 anos de “Sticky Fingers”

O clássico “Sticky Fingers”, dos Rolling Stones, completa 50 anos em 2021. À direita, a capa do álbum lançado na Espanha

Hoje, sexta-feira, 23 de março de 2021, é uma data histórica para os Rolling Stones (por dois motivos), e também do rock: a data marca os 50 anos do lançamento de uma de suas obras-primas, o classicão “Sticky Fingers”, o nono álbum da discografia britânica do grupo e 11° em relação à discografia norte-americana. Gravado em três períodos entre março de 1969 e outubro de 1970, nos estúdios Muscle Shoals Sound, no Alabama (EUA) e nos londrinos Olympic e Trident Studios e no estúdio móvel da banda, em Stargroves, praxe feita nos trabalhos anteriores pelo grupo por conta das incontáveis turnês realizadas entre 1969 e 1971. O play foi o primeiro a ser lançado pela gravadora da banda, a Rolling Stones Records, e também a ter o famoso logo da língua, além de ter marcado a estreia de Mick Taylor nas guitarras no lugar do falecido Brian Jones. A produção ficou a cargo de Jimmy Miller.

Assim como seus “rivais” e amigos Beatles, Mick Jagger e sua trupe fundaram a própria gravadora em virtude do fim do contrato com a Decca Records/London Records para, assim, ficarem livres para lançar seus discos (e capas) da forma que quisessem. Porém, o ex-gerente Allen Klein, que também empresariava os Beatles, tirou proveito do descuido dos Stones em relação ao controle de seu material, registrou tudo o que a banda havia lançado pela Decca como propriedade da ABKCO, empresa de sua propriedade. Mick Jagger até processou o empresário, mas o julgamento demorou quase 20 anos e o grupo não recuperou todo o catálogo que lançou até 1971 e, com isso, os herdeiros de Klein ficaram com o catálogo. Ou seja, tudo que a banda lançou entre 1963 e 1970.

Além disso, a Decca informou que os Stones lhe deviam mais um single e, como isso, Jagger e Richards compuseram e apresentaram uma faixa chamada “Cocksucker Blues”, que foi recusada. Então, a ex-gravadora lançou como single, “Street Fighting Man”, que havia saído em “Beggars Banquet (1968), enquanto Allen Klein teria a propriedade sobre os direitos autorais de “Brown Sugar” e “Wild Horses“.

A maior parte da gravação de “Sticky Fingers” foi efetuada no estúdio móvel dos Rolling Stones, em Stargroves, durante o verão e o outono do Hemisfério Norte de 1970. As primeiras versões de algumas canções que aparecem no álbum posterior, “Exile On Main St.” (1972), também foram feitas durante essas sessões.

O álbum começa com tudo com a clássica “Brown Sugar“, uma faixa agitada, envolvente e que se tornou obrigatória nos shows do grupo desde então, destaque para o maravilhoso som do sax de Bobby Keys e, por incrível que pareça, o riff dela foi feito por Mick Jagger. A música seguinte é “Sway“, um Blues com uma pegada mais lenta em que traz Jagger tocando guitarra enquanto Mick Taylor extrapola no slide guitar. O terceiro tema é outro clássico: a balada-folk “Wild Horses“, cuja letra foi inspirada em Marianne Faithfull, na época, mulher de Jagger. Posteriormente, o play contém “Can’t You Her Me Knocking“, a maior faixa do disco, com mais de sete minutos. Na verdade, ela foi o resultado de duas canções que viraram uma só. Tanto que a primeira parte, a guitarra é tocada por Keith Richards, no meio aparece o saxofonista Bobby Keys e o organista Billy Preston, o que resulta em uma jam no final e que teve a segunda parte com a guitarra feita por Mick Taylor. E o lado A se encerra com “You Gotta Move“, um cover da década de 1940 e que os Stones a transformaram em um Blues de primeira qualidade. A guitarra slide dá o tom.

O lado B começa muito bem com “Bitch”, um rock bem agitado, com destaque para o baixo cabuloso de Bill Wyman e a ótima presença dos metais. Uma das melhores do disco. Depois, em “I Got The Blues”, uma balada no estilo Blues gospel, com destaque para Jagger cantando muito e o protagonismo ficam por conta das presenças (mais uma vez) dos metais e da colaboração de Billy Preston em um desempenho estupendo no órgão, além do ótimo trabalho de backing vocal. Em seguida, em “Sister Morphine”, canção gravada por Faithfull em 1969, ganhou uma roupagem bem diferente com os Stones, que a deixaram mais Blues, com Ry Cooder na gutarra slide. A penúltima música é “Dead Flowers“, com uma letra pesada e triste a respeito da heroína e que merece ser ouvida com atenção. E, para finalizar, “Moonlight Mile“, que teve arranjos de cordas feito por Paul Buckmaster por sugestão de Mick Taylor. A música foi oriunda de uma sessão entre Jagger e Taylor, que recebeu a promessa de que seria creditado como co-autor, o que não ocorreu.

 Anos depois, em 2015, “Sticky Fingers” ganhou duas versões luxuosas. Uma, com um CD bônus com dez faixas, sendo algumas com versões alternativas de algumas músicas do álbum e também com cinco músicas gravadas ao vivo no Roundhouse em 1971. E a outra edição trazia outro CD bônus com 13 faixas de um show realizado na Universidade de Leeds em 1971. Aliás, a edição brasileira do disco, na época, saiu sem a faixa “Sister Morphine”, ou seja, mas o problema foi sanado com o relançamento da obra em 1976.

E não tinha como não falar de “Sticky Fingers” sem destacar a sua polêmica capa. A arte da capa, feita por Andy Warhol, trazia a foto da virilha de um modelo vestindo uma calça jeans bem apertada, ocultando um pênis supostamente ereto e que muitos fãs acreditaram ser de Mick Jagger, porém, segundo as pessoas envolvidas na sessão da foto, vários homens foram fotografados, mas o vocalista não estava entre eles. No lançamento original, o zíper que aparecia era de verdade que, quando era puxado, mostrava um sujeito usando cuecas de algodão. Porém, depois de vários lojistas reclamarem de que o zíper estava a danificar o vinil, o item foi transferido para o meio do disco, onde os danos seriam minimizados. Inclusive, a capa original foi substituída em alguns países, como na Espanha, que trouxe uma imagem que mostrava três dedos de uma mão feminina saindo de uma lada com líquido preto. Além disso, naquele País, a faixa “Sister Morphine” foi trocada por “Let It Rock”, de Chuck Berry. Vale reforçar que os espanhóis ainda viviam sobre a ditadura de Francisco Franco, que durou de 1939 até 1975. Já a edição russa da obra trouxe uma capa semelhante a original, mas a fotografia de uma calça jeans, aparentemente feminina com uma foice e um martelo gravados em uma fivela de cinto em forma de estrela.

O disco chegou ao topo das paradas no Reino Unido, posição que ocupou por quatro semanas seguidas, enquanto nas paradas norte-americanas, ficou um mês no topo.

Bom, “Sticky Fingers” é um daqueles discos que é considerado obrigatório em qualquer coleção que se preze. Não é à toa que ele é constantemente citado em diversos rankings, como os “500 Maiores Álbuns de Todos os Tempos”, da Rolling Stone, ocupando a 63ª posição, enquanto o canal VH1 o colocou em 46º na lista dos melhores discos de todos os tempos, além de ter sido citado como um dos “1001 discos que você tem que ouvir antes de morrer”, livro lançado em 2005.

E, por fim, chega de falatório, bora ouvir esse grande clássico do rock.

A seguir, a ficha técnica e o tracklist da obra.

Álbum; Sticky Fingers
Intérprete: The Rolling Stones
Lançamento: 23 de abril de 1971
Gravadora: Rolling Stones Records
Produtor: Jimmy Miller

Mick Jagger: voz, backing vocal, violão em “Dead Flowers” e “Moonlight Mile”, castanholas e maracas em “Brown Sugar”, guitarra elétrica em “Sway” e percussão em “Wild Horses
Keith Richards: guitarra (exceto em “Sway”, “Sister Morphine” e “Moonlight Mile”), violão em “Brown Sugar”, “Wild Horses”, “You Gotta Move”, “Sister Morphine” e “Dead Florwers”, backing vocal
Bill Wyman: baixo (exceto em “You Gotta Move”) e piano elétrico em “You Gotta Move
Charlie Watts: bateria
Mick Taylor: guitarra (exceto em “Wild Horses” e “Sister Morphine”) e violão em “Wild Horses

Paul Buckaster: arranjo de cordas em “Sway” e “Moonlight Mile
Bobby Keys: sax tenor em “Brown Sugar”, “Can’t You Hear Me Knocking”, “Bitch” e “I Got The Blues
Ian Stewart: piano em “Brown Sugar” e “Dead Flowers
Billy Preston: órgão em “Can’t You Hear Me Knocking” e “I Got The Blues
Ry Cooder: guitarra slide em “Sister Morphine
Jim Price: trompete e piano em “I Got The Blues” e “Moonlight Mile
Jim Dickinson: piano em “Wild Horses
Jack Nitzsche: piano em “Sister Morphine
Rocky Dijon: congas em “Can’t You Hear Me Knocking
Jimmy Miller: percussão em “Can’t You Hear Me Knocking
Nicky Hokins: piano em “Sway” e “Can’t You Hear Me Knocking

1. Brown Sugar (Jagger / Richards)
2. Sway (Jagger / Richards)
3. Wild Horses (Jagger / Richards)
4. Can’t You Hear Me Knocking (Jagger / Richards)
5. You Gotta Move (McDowell / Davis)
6. Bitch (Jagger / Richards)
7. I Got The Blues (Jagger / Richards)
8. Sister Morphine (Jagger / Richards / Faithfull)
9. Dead Flowers (Jagger / Richards)
10. Moonlight Mile (Jagger / Richards)

Por Jorge Almeida

The Rolling Stones: 55 anos de “Aftermath”

As capas das versões britânicas e norte-americana de “Aftermath”, dos Rolling Stones, que completa 55 anos em 2021

Hoje, 15 de abril de 2021, marca o 55º aniversário de “Aftermath”, o quarto álbum da discografia britânica dos Rolling Stones (e sexto da norte-americana), completa 55 anos de seu lançamento, no caso, a versão editada no Reino Unido, uma vez que a edição que saiu na terra do Tio Sam foi lançada em 20 de junho de 1966. Produzido por Andrew Loog Oldham, o álbum foi gravado entre os dias 6 e 10 de dezembro de 1965 e de 3 a 12 de março de 1966, nos estúdios da RCA, em Hollywood, na Califórnia, o material saiu pela Decca Records na terra-natal do grupo e pela London Records nos Estados Unidos. Para muitos, esse disco é importante na carreira da banda porque foi o primeiro a ter um material 100% autoral, ou seja, sem covers, e também o primeiro a ser lançado em estéreo.

A obra ficou notável por conta da experimentação musical do grupo, especialmente por parte de Brian Jones, que tocou diversos instrumentos que, usualmente, não tem uma ligação direta como o rock, como dulcimer, xilofone africano, marimbas, cítara, gaita, etc. E outra prova que atesta a maturidade dos Stones foi que, pela primeira vez, compuseram uma música que ultrapassou a barreira dos três minutos, caso de “Goin’ Home”, que possui longevos 11 minutos que, segundo Bill Wyman, os caras estavam gravando a faixa e ficaram à espera de alguém do estudo para sinalizar para paralisar o registro e, como ninguém fez isso, eles seguiram adiante até Charlie Watts parar a bateria, o que fez Keith Richards jogar-lhe o seu casaco em cima do baterista.

E, como é de conhecimento de todos, nos primeiros discos dos Rolling Stones, havia diferenças entre os álbuns lançados no Reino Unido e nos Estados Unidos, que iam desde a concepção da capa à escolha das faixas que entrariam nos álbuns, assim como a ordenação das mesmas. E com “Aftermath” não foi diferente. O play que saiu no solo britânico apresentou 14 temas, três faixas a mais em relação à versão norte-americana que, por sua vez, apresentou uma das mais icônicas músicas do grupo (uma das minhas favoritas de todo o catálogo do grupo!): “Paint It Black”, enquanto a edição dos “States” já não conta com “Mother’s Little Helper“, “What To Do” e “Out Of Time“.

O disco (refiro-me à versão britânica) começa com “Mother’s Little Helper“, que já explora a musicalidade de Brian Jones, mandando ver na cítara na música com um estilo country. Em seguida, aparece “Stupid Girl“, um rock de garagem agressivo bem executado. O terceiro tema é “Lady Jane”, com outra enorme contribuição de Jones, que brilha com um lindo acompanhamento de um dulcimer. Já em “Under My Thumb“, que manteve o protagonismo de Brian ao mandar bala nas marimbas. Enquanto isso, em “Doncha Bother Me“, os Stones resgatam o Blues presente em suas raízes e, para encerrar o lado A, “Goin’ Home“, a longa faixa de 11 minutos com uma jam com direito a Mick Jagger improvisando letras em uma pegada bem psicodélica.

A segunda parte da obra dá o pontapé com “Flight 505”, cuja ‘intro’ lembra o ‘riff’ de “(I Can’t Get No) Satisfaction” e faz jus ao status de “lado B”, é uma boa música, mas pouco lembrada. Depois, aparece “High And Dry”, uma canção bem caipira que merece atenção pelo ótimo desempenho de Brian Jones na gaita. Posteriormente, o play apresenta a balada “Out Of Time”, que ganhou uma versão arrasadora feita por Chris Farlowe, que saiu no álbum “The Art Of Chris Farlowe” (1966). Aliás, só um registro que precisa ser feito aqui: hoje marca o 20° de falecimento de Joey Ramone, então, já que estamos falando dessa música dos Stones, vale destacar que a icônica banda da qual Joey fez parte também fez uma versão de “Out Of Time”, em seu disco de covers: “Acid Eaters” (1993), que também ficou bem legal. Bom, voltando à obra, ela traz “It’s Not Easy”, um som de garagem bem agradável de ouvir. Na sequência, a incrível “I Am Waiting”, com mais outra participação de Brian Jones no dulcimer, mas aqui destaco também o ótimo trabalho de backing vocal e o baixão firme de Bill Wyman. O disco é finalizado com uma trinca de boas faixas pops: “Take It Or Leave It“, “Think” (essa também ganhou uma versão com o já citado Chris Farlowe um pouco antes, em janeiro de 1966) e “What To Do“.

Em relação à versão norte-americana, que se destaca justamente por conter “Paint It Black” (algumas prensagens creditam a música como “Paint It, Black”). Composta pela dupla Jagger/Richards, a letra da canção usa metáforas através de cores para descrever a dor sofrida por alguém atordoado pela perda repentina de um parceiro. A presença da cítara na ‘intro’ (coisa de Brian Jones!) foi feita à moda indiana e a parte rítmica e melódica da frase da música soam orientais. O clássico se destaca pelo baixo pesado de Wyman, a bateria grave de Watts, o violão “boleirado” de Keith Richards. Enfim, uma baita música do grupo.

Esse álbum é daqueles que deixa o ouvinte ou um eventual comprador com a pulga atrás da orelha na hora que for escolher qual versão comprar: pois, a edição britânica tem mais faixas, mas a norte-americana apresenta a clássica “Paint It Black”. Oh, dúvida cruel. Se puder, leve as duas. Discão.

A seguir, a ficha técnica e o tracklist (das duas versões) da obra.

Álbum: Aftermath
Intérprete: The Rolling Stones
Lançamento: 15 de abril de 1966 (no Reino Unido) / 20 de junho de 1966 (nos Estados Unidos)
Gravadora/Distribuidora: Decca Records (Reino Unido) / London Records (Estados Unidos)
Produtor: Andrew Loog Oldham

Mick Jagger: voz, backing vocal, percussão e gaita em “Doncha Bother Me
Keith Richards: guitarra, violão, harmonia e backing vocal; baixo distorcido (fuzz bass) em “Under My Thumb“, “Flight 505” e “It’s Not Easy
Brian Jones: guitarras, violões, cítara em “Paint It Black“, dulcimer em “Lady Jane” e “I Am Waiting“, marimba em “Under My Thumb” e “Out Of Time“, gaita em “Goin’ Home” e “High And Dry” e koto em “Take It Or Leave It
Bill Wyman: baixo, baixo retorcido (fuzz bass), órgão em “Paint It Black” e sinos
Charlie Watts: bateria, percussão e sinos

Jack Nitzsche: piano, órgão, cravo e percussão
Ian Stewart: piano e órgão

– Edição britânica:
1. Mother’s Little Helper (Jagger / Richards)
2. Stupid Girl (Jagger / Richards)
3. Lady Jane (Jagger / Richards)
4. Under My Thumb (Jagger / Richards)
5. Doncha Bother Me (Jagger / Richards)
6. Goin’ Home (Jagger / Richards)
7. Flight 505 (Jagger / Richards)
8. High And Dry (Jagger / Richards)
9. Out Of Time (Jagger / Richards)
10. It’s Not Easy (Jagger / Richards)
11. I Am Waiting (Jagger / Richards)
12. Take It Or Leave It (Jagger / Richards)
13. Think (Jagger / Richards)
14. What To Do (Jagger / Richards)

– Edição norte-americana:
1. Paint It Black (Jagger / Richards)
2. Stupid Girl (Jagger / Richards)
3. Lady Jane (Jagger / Richards)
4. Under My Thumb (Jagger / Richards)
5. Doncha Bother Me (Jagger / Richards)
6. Think (Jagger / Richards)
7. Flight 505 (Jagger / Richards)
8. High And Dry (Jagger / Richards)
9. It’s Not Easy (Jagger / Richards)
10. I Am Waiting (Jagger / Richards)
11. Goin’ Home (Jagger / Richards)

Por Jorge Almeida

The Rolling Stones: 30 anos de “Flashpoint”

“Flashpoint”, o último disco com a presença do baixista Bill Wyman, completa 30 anos em 2021

Nesta sexta-feira, feriado de Sexta-feira da Paixão, 2 de abril, marca o 30° aniversário de “Flashpoint”, o quinto disco ao vivo dos ‘dinossauros’ Rolling Stones. Gravado entre novembro de 1989 e janeiro de 1991, durante a mega-turnê “Steel Wheels/Urban Jungle Tour”, ou seja, duas turnês em um ano só. Produzido por Chris Kimsey e pelos The Glimmer Twins, o registro saiu pela Rolling Stones Records e Sony. Para os fãs, é um trabalho emblemático porque marca a saída do “único baixista oficial” da banda, Bill Wyman. O material ainda apresenta duas faixas de estúdio inéditas.

Depois de terem passado boa parte dos anos 1980 brigados, mais especificamente Mick Jagger e Keith Richards, os Rolling Stones voltaram com tudo em 1989 quando lançaram “Steel Wheels”, que teve boas vendagens e que ajudou para que a banda ousasse em suas turnês, ao implantar palcos grandiosos, apresentações longas, com mais de duas horas de duração, com grandes nomes do rock para fazer abertura de seus shows, participações especiais de ‘medalhões’ da música, como Axl Rose ‘duetando’ com Jagger ou Eric Clapton tocando junto com Keith Richards e Ron Wood. O resultado disso: bilheteria cheia e faturamento milionário.

E “Flashpoint” é o primeiro registro ao vivo da banda nessa nova fase e também o primeiro do grupo desde 1982, quando lançaram “Still Life”. Então, com exposição massiva na mídia, os Stones caíram na estrada e, durante as apresentações realizadas pela América do Norte, Europa e Japão, foram gravadas algumas faixas dos 115 shows das duas turnês que culminaram com o lançamento do álbum.

Com o contrato com a Sony Music encerrado após “Flashpoint”, a banda assinou um acordo com a Virgin Records ainda em 1991, menos Bill Wyman. Depois de 30 anos com o grupo, o baixista decidiu que era hora de se aposentar e investir em outros projetos. A vontade de Wyman de sair havia iniciado ainda durante a “Steel Wheels Tour” e só demorou para concretizar porque os demais membros insistiam constantemente para ele repensar sobre o assunto, então, Bill Wyman prosseguiu como um stone até janeiro de 1993. E, desde então, até hoje, o grupo não preencheu a vaga deixada por ele com um integrante permanente, mas colocou Darryl Jones no lugar de Wyman como músico contratado.

O álbum começa com uma ‘intro’ de um trecho percussivo de “Continental Drift”, de “Steel Wheels”, depois Jagger e companhia presenteiam os fãs com uma overdose de clássicos stonianos mesclados com temas mais recentes: “Start Me Up”, “Sad Sad Sad”, novidade na época, “Miss You”, “Rock And A Hard Place”, que ainda não era clássico, “Ruby Tuesday”, “You Can’t Always Get What You Want“, com Mick Jagger fazendo um dueto com o público, “Factory Girl”, uma esquecida faixa de “Beggar’s Banquet” (1968) e o play chega à metade com “Can’t Be Seen”, cantada por Richards.

Em seguida, Eric Clapton dá as caras e toca em “Little Red Rooster”, um Blues de Willie Dixon e que, além do show à parte do trio Clapton, Richards e Ron Wood, os tecladistas – Matt Clifford e Chuck Leavell – abrilhantam a performance. Na sequência, vem a melhor parte do repertório: “Paint It Black“, “Sympathy For The Devil“, “Brown Sugar“, “Jumpin’ Jack Flash” e, claro, a obrigatória “(I Can’t Get No) Satisfaction“, em uma versão que passou de seis minutos.

Em relação às músicas de estúdio inéditas: “Highwire”, que foi lançada como single, traz uma letra que Mick Jagger foi motivado a escrever em virtude da Guerra do Golfo; e, “Sex Drive”, que encerra o registro, é uma forma qualificada que o vocalista encontrou para expressar sua admiração por James Brown.

Outras faixas que faziam parte do setlist da banda na época e que não entraram em “Flashpoint” foram lançadas como lados B’s de singles, como “2000 Light Years From Home“, que foi lado B de “Highwire“, ou “Gimme Shelter”, que saiu em 1993 como um single para caridade, por exemplo.

O play chegou ao sexto lugar das paradas britânicas, enquanto ficou em 16° na Billboard 200, porém, recebeu certificados de Ouro na Áustria, Canadá, Alemanha, Nova Zelândia, Suíça e, claro, Reino Unido e Estados Unidos. Na Holanda receberam platina.

Aliás, por questão de espaço, a versão em LP de “Flashpoint” não trazia “Rock And A Hard Place” e “Can’t Be Seen“. Além disso, o álbum foi remasterizado e reeditado pela Virgin Rcords em 1998 e novamente em 2010 pela Universal Music.

De fato, “Flashpoint” não é o melhor álbum ao vivo dos Rolling Stones, tanto que há diversas críticas desfavoráveis ao play, porém, não é um registro que merece ser ignorado, pois, o repertório é muito bom e, querendo ou não, ele captou justamente o começo da onda dos mega-espetáculos dos shows dos Rolling Stones. Vale sim a aquisição.

A seguir, a ficha técnica e o tracklist da obra.

Álbum: Flashpoint
Intérprete: The Rolling Stones
Lançamento: 2 de abril de 1991
Gravadora/Distribuidora: Rolling Stones Records / Sony Music
Produtores: Chris Kimsey e The Glimmer Twins

Mick Jagger: voz, guitarra e gaita
Keith Richards: guitarra, backing vocal e voz em “Can’t Be Seen
Ron Wood: guitarra
Bill Wyman: baixo
Charlie Watts: bateria

Eric Clapton: guitarra em “Little Red Rooster
Lisa Fischer, Lorelei McBroom e Cindy Mizelle: backing vocal
Bernard Fowler: backing vocal e backing vocal em “Highwire
The Upton Horns – Arno Hecht, Paul Litteral, Bob Funk e Crispen Cloe: metais
The Kick Horns: trompas em “Rock And A Hard Place
Bobby Keys: saxofone
Matt Clifford: teclados e trompa
Chuck Leavell: teclados e backing vocal
Katie Kissoon e Tessa Niles: backing vocal em “Sex Drive

1. (Intro) Continental Drift (Jagger / Richards)
2. Start Me Up (Jagger / Richards)
3. Sad Sad Sad (Jagger / Richards)
4. Miss You (Jagger / Richards)
5. Rock And A Hard Place (Jagger / Richards)
6. Ruby Tuesday (Jagger / Richards)
7. You Can’t Always Get What You Want (Jagger / Richards)
8. Factory Girl (Jagger / Richards)
9. Can’t Be Seen (Jagger / Richards)
10. Little Red Rooster (Dixon)
11. Paint It Black (Jagger / Richards)
12. Sympathy For The Devil (Jagger / Richards)
13. Brown Sugar (Jagger / Richards)
14. Jumpin’ Jack Flash (Jagger / Richards)
15. (I Can’t Get No) Satisfaction (Jagger / Richards)
16. Highwire (Jagger / Richards)
17. Sex Drive (Jagger / Richards)

Por Jorge Almeida

Rolling Stones: 35 anos de “Dirty Work”


“Dirty Work”, o ‘conturbado’ disco dos Stones completa 35 anos em 2021


Hoje, 24 de março, o álbum “Dirty Work”, dos Rolling Stones, completa 35 anos de lançamento. Gravado em dois períodos entre abril e agosto de 1985, o disco foi co-produzido por Steve Lillywhite e The Glimmer Twins. Esse foi o primeiro disco da banda feito pela CBS Records, além do selo Rolling Stones Records.

As sessões de “Dirty Work” iniciaram em abril de 1985, em Paris, depois teve um curto intervalo e, na sequência das gravações, o play teve a presença ilustre de Jimmy Page, na faixa “One Hit (To The Body)”. Contudo, o período ficou marcado por conta dos constantes desentendimentos entre Keith Richards e Mick Jagger. O guitarrista demonstrou insatisfação por conta de que o vocalista estava mais comprometido em dedicar-se ao seu primeiro disco solo, “She’s The Boss” (1985), e também em investidas em uma carreira de ator.

Essas atividades de Jagger fora dos Stones comprometeu o seu desempenho nas gravações do álbum, como ausência em diversas sessões de gravação, com algumas delas sendo feitas apenas por Richards, Ron Wood, Bill Wyman e Charlie Watts, enquanto Mick adicionou os seus vocais posteriormente. O vocalista não teve bastante envolvimento na obra, tanto que o play foi o primeiro álbum dos Stones desde de “Sticky Fingers” (1971) em que o vocalista não tocou violão ou guitarra em nenhuma faixa e o primeiro a ter Keith Richards nos vocais em mais de uma música.

Outro fato que constata o pouco interesse de Mick Jagger na criação do disco pode ser constatado na quantidade de músicas creditadas apenas aos Glimmer Twins, o que não acontece desde “Out Of Our Heads” (1965), o que dava indício do distanciamento entre eles.

Essa crise de relacionamento entre os Stones tornou-se notória no lendário show do Live Aid, em 13 de julho de 1985, pois, enquanto Mick Jagger se apresentava sozinho no evento, Keith e Ron Wood estavam no mesmo show, mas tocando com Bob Dylan. Outra situação desconfortável que os caras passaram foi a forma como Jagger tratava seus colegas de banda, como fosse seus subordinados, dando ordens e sem chegar a um consenso, como Keith Richards afirmou em sua autobiografia “Life” (2009), aqui no Brasil intitulado “Vida”.

Outra situação incômoda que os Rolling Stones passavam estava relacionada à pouca participação de Charlie Watts nas sessões, pois o baterista estava afundado no vício da heroína e do álcool. Tanto que, em “Undercover” (1983) quanto “Dirty Work”, diversos bateristas foram creditados nos discos no lugar de Watts.

Curiosamente, Jagger e Richards parecem trocar golpes no clipe de “One Hit (To The Body)”, além disso, em certos momentos daquele período, eles se evitavam nos lugares e boatos da época diziam que eles chegaram às vias de fato. Esse momento conturbado persistiu por alguns anos, período que Mick Jagger lançou “Primitive Cool” (1987) e Keith soltou “Talk Is Cheap” (1988), sua primeira investida na carreira solo.

E, durante a produção d e “Dirty Work”, um personagem importante na vida do grupo morreu. Em 12 de dezembro de 1985, Ian Stewart, pianista de longa data e considerado o “sexto Stone”, morreu de um súbito ataque cardíaco aos 47 anos. Conhecido como “Stu”, o músico foi um dos fundadores dos Rolling Stones, mas por conta de sua “falta de beleza”, foi tratado como músico de apoio. Em sua homenagem, o disco teve uma faixa oculta em que Stewart tocava “Key To The Highway”, de Big Bill Broonzy, para fechar o álbum.

O disco até começa bem com “One Hit (To The Body)”, que tem a participação de Jimmy Page, com um refrão bem circundante. Já em seguida, aparece “Fight”, que tem uma típica pegada de rock oitentista e uma força vocal de Jagger.  O terceiro tema é “Harlem Shuffle”, uma balada bem bacana e que foi um dos singles do álbum, um cover que ajudou na divulgação do álbum e colaborou bastante para as vendagens do disco. Depois, vem “Too Rude”, que traz os vocais de Keith Richards, que tem uns toques de reggae que, em nada, lembra os Rolling Stones, e que encerra a primeira metade do disco.

O play inicia a outra parte com “Winning Ugly”, que se destaca pelo timbre de guitarra. Posteriormente, vem a dobradinha “Back To Zero” e a faixa-título, que mantém o estilo dos anos 1980, são boas músicas.  A penúltima música é “Had It With You”, é um rock and roll agitado com direito a solo de gaita. E a décima faixa é a ótima “Sleep Tonight”, uma balada romântica e calma cantada por Keith Richards. A obra ainda contém uma faixa oculta: “Key To The Highway“, tocada pelo “sexto Stone”, Ian Stewart, como forma de homenagem ao companheiro falecido.

Evidentemente que “Dirty Work” tem boas músicas, mas por conta das circunstâncias em que ele foi produzido, isso contribui para que o play não tenha o devido reconhecimento, mas deve ser analisado com bons olhos. Não é um clássico, mas longe de ser um trabalho “descartável”.

A seguir, a ficha técnica e o tracklist da obra.

Álbum: Dirty Work
Intérprete: The Rolling Stones
Lançamento: 24 de março de 1986
Gravadora/Distribuidora: CBS Records / Virgin Records / Rolling Stones Records
Produtores: Steve Lillywhite e The Glimmer Twins

Mick Jagger: voz, backing vocal e gaita
Keith Richards: guitarra, violão, piano, backing vocal e voz em “Too Rude” e “Sleep Tonight
Ronnie Wood: guitarra, violão, pedal steel, saxofone tenor, backing vocal e bateria em “Sleep Tonight
Bill Wyman: baixo e sintetizador
Charlie Watts: bateria

Jimmy Page: guitarra em “One Hit (To The Body)
Ian Stewart: piano
Bobby Womack: backing vocal e guitarra em “Back To Zero
Chuck Leavell e Philippe Saisse: teclados
John Regan: baixo em “Winning Ugly
Ivan Neville: backing vocal, baixo, órgão e sintetizador
Marky Ribas: percussão
Dan Collette: trompete
Anton Fig: shakers (uma espécie de chocalho)
Jimmy Cliff, Don Covay, Beverly D’Angelo, Kirsty MacColl, Dolette McDonald, Janice Pendarvis, Patti Scialfa e Tom Waits: vocais de apoio

1. One Hit (To The Body) (Jagger / Richards / Wood)
2. Fight (Jagger / Richards / Wood)
3. Harlem Shuffle (Relf / Nelson)
4. Hold Back (Jagger / Richards)
5. Too Rude (Roberts)
6. Winning Ugly (Jagger / Richards)
7. Back To Zero (Jagger / Richards / Leavell)
8. Dirty Work (Jagger / Richards / Wood)
9. Had It With You (Jagger / Richards / Wood)
10. Sleep Tonight (Jagger / Richards)
11. Key To The Highway (faixa oculta) (Broozy / Segar)

Por Jorge Almeida

The Rolling Stones: 55 anos de “December’s Children (And Everybody’s)”

“December’s Children (And Everybody’s)”, disco norte-americano dos Rolling Stones, que completa 55 anos em 2020

Nesta sexta-feira, 4 de dezembro, o quinto disco de estúdio (conforme a discografia norte-americana) dos Rolling Stones, “December’s Children (And Everybody’s)”, completa 55 anos de seu lançamento. Produzido por Andrew Loog Oldham, o álbum foi lançado pela London Records.

Na verdade, não é um disco de estúdio 100%, digamos, original, uma vez que o grupo não fez gravou sessões para gravar exclusivamente esse álbum. Pois, a maior parte das músicas foram retiradas da edição britânica de “Out Of Our Head”, que saíra em setembro de 1965, enquanto outras foram gravadas durante sessões de gravação, lançadas apenas em singles, também apenas nas versões britânicas dos discos da banda, mas deixadas de fora da edição norte-americana e duas do EP ao vivo “Got Life If You Want It!“, que saiu na Inglaterra na metade de 1965.

Esse foi o último dos primeiros registros da banda a conter a presença de material cover, enquanto a dupla de compositores Mick Jagger e Keith Richards escreveram a metade das outras canções. Além do quinteto – Jagger, Richards, Jones, Wyman e Watts -, o material teve a presença do ex-integrante Ian Stewart no piano.

O registro possui alguns bons temas, como o sucesso “Get Off Of My Cloud”, que a banda fez como uma reação provocada pelo aumento repentino de sua popularidade e trabalha com a sua aversão sobre as perspectivas que as pessoas tiveram deles por conta do sucesso de “Satisfaction”. Outro destaque fica por conta da balada “As Tears Go By”, que havia sido gravada no ano anterior por Marianne Faithfull. Vale também conferir os covers sensacionais de Larry Williams –  “She Said Yeah” –, de Chuck Berry – “Talkin’ About You” (que saiu também em “Out Of Our Head”) e a versão de “You Better Move On” (de Arthur Alexander), que saiu em um EP lançado na Inglaterra no começo de 1964, assim como as versões ao vivo de “Route 66” e “I’m Moving On”, cover de Hank Snow, ambas gravadas ao vivo na Inglaterra.

O título do play veio do empresário da banda, Andrew Loog Oldham. De acordo com Jagger, foi a ideia de Oldham de poesia beat, moderna.

A foto da capa da banda, de Gered Mankowitz, havia sido usada anteriormente para a edição britânica de “Out of Our Heads”.

A obra chegou ao quarto lugar nos Estados Unidos, onde recebeu o certificado de ouro.  Em agosto de 2002, o álbum foi relançado em um novo CD remasterizado e digipak SACD pela ABKCO Records. “Look What You Done” continua sendo a única versão do álbum emitida em estéreo verdadeiro.

Não se trata de um disco “imperdível” dos Rolling Stones, mas para quem coleciona discos do grupo, é um material que é bem-vindo.

A seguir, a ficha técnica e o tracklist da obra.

Álbum: December’s Children (And Everybody’s)
Intérprete: The Rolling Stones
Lançamento: 4 de dezembro de 1965
Gravadora: London Records
Produtor: Andrew Loog Oldham

Mick Jagger: voz, backing vocal, pandeiro em “Gotta Get Away
Keith Richards: guitarra (exceto em “As Tears Go By”), violão em “The Singer Not The Song” e “As Tears Go By” e backing vocal
Brian Jones: guitarra, violão em “You Better Move On”, gaita em “Look What You’ve Done” e “I’m Moving On”, órgão em “I’m Free”, piano elétrico em “Get Off Of My Mind” e backing vocal em “You Better Moving On
Bill Wyman: baixo (exceto em “As Tears Go By” e backing vocal em “You Better Move On
Charlie Wats: bateria (exceto em “As Tears Go By”)

Ian Stewart: piano em “Talkin’ About You”, “Look What You’ve Done” e “Get Off Of My Cloud
Mike Leander: arranjo de cordas em “As Tears Go By

1. She Said Yeah (Bono / Jackson)
2. Talkin’ About You (Berry)
3. You Better Move On (Alexander)
4. Look What You’ve Done (Morganfiel – a.k.a. Waters)
5. The Singer Not The Song (Jagger / Richards)
6. Route 66 (Troup)
7. Get Off Of My Cloud (Jagger / Richards)
8. I’m Free (Jagger / Richards)
9. As Tears Go By (Jagger / Richards / Oldham)
10. Gotta Get Away (Jagger / Richards)
11. Blue Turns To Grey (Jagger / Richards)
12. I’m Moving On (Snow)

Por Jorge Almeida