Whitesnake: 25 anos de “Restless Heart”

“Restless Heart”, do Whitesnake, álbum que David Coverdale, por questões contratuais, não pode lança-lo como disco solo, que completa 25 anos em 2022. As versões europeia (à esq) e japonesa (à dir.) da obra

Neste sábado, 26 de março, o álbum “Restless Heart“, o nono trabalho de estúdio do Whitesnake, completa 25 anos de lançamento. No caso, a edição japonesa da obra, já que a versão europeia do play saiu dia 26 de maio do mesmo ano. Gravado no Sierra Sonic, em Reino, no Nevada, a obra saiu pela EMI e foi produzida por David Coverdale. Aliás, a ideia inicial do projeto era para ser um disco solo do vocalista, mas foi pressionado pela gravadora a soltar o álbum como “David Coverdale & Whitesnake“.

Assim que encerrou a Liquor & Poker Tour em setembro de 1990, David Coverdale resolveu dar um tempo com o Whitesnake e descansar um pouco, já que vinha de discos e turnês bem-sucedidos. Com isso, o ex-vocalista do Deep Purple adentrou a década de 1990 sem lançar nenhum material inédito, até que, a partir de 1993, resolveu colocar suas “manguinhas de fora” e lançou um disco com Jimmy Page, o excelente “Coverdale • Page” (1993). Além disso, um pouco antes, o cantor já havia começado a escrever novas músicas com Adrian Vandenberg. Com seu novo parceiro, David Coverdale fez uma pequena turnê pela Europa com uma banda de estúdio dando suporte. Paralelamente, a EMI e a Geffen Records lançaram a coletânea “Greatest Hits“, em 1994, e, ainda no final daquele ano, a gravadora norte-americana (Geffen) dispensou a banda.

No entanto, isso não desmotivou David Coverdale que retomou as gravações e empolgado em lançar com Adrian um possível álbum solo. Em seguida, o vocalista começou as sessões de gravação em 1995, em Nevada, onde ele morava na época. Então, além da dupla, Guy Pratt (baixo), Denny Carmassi (bateria) e Brett Tuggle (teclados) se juntou a eles para a gravação do possível trabalho solo de David Coverdale, tendo o vocalista atuando como produtor e Bjorn Thorsrud como engenheiro de som.

Mas, quando o material estava para ser finalizado, alguns executivos da EMI foram conferir uma sessão de audição e pediram para que o disco fosse lançado como um álbum do Whitesnake (algo semelhante que aconteceu com Tony Iommi em relação ao disco “Seventh Star”, que ficou creditado como obra do Black Sabbath), contrariando o vocalista que alegara que o estilo do material gravado era diferente em relação à sua banda. Todavia, o contrato de David Coverdale com a gravada se referia a ele como “David Coverdale, conhecido como o artista do Whitesnake”, logo, o cantor não teve outra opção a não ser cumprir. Eis que o baterista Denny Carmassi sugeriu que David Coverdale lançasse o álbum sob o apelido de “David Coverdale & Whitesnake“. Então, para resolver o impasse, as guitarras e a bateria foram colocadas na mixagem final para deixar a sonoridade mais próxima do Whitesnake, o que, anos depois, deixou o vocalista decepcionado com o resultado.

A obra começa com “Don’t Fade Away“, que tem uma pegada bem diferente das tradicionais “baladas coverdelianas”. Na sequência, temos a excelente “All In The Name Of Love“, com boas linhas de teclados e corais no refrão, além de um bom solo de guitarra com uma levada Blues de Vandenberg. Já a faixa-título, que aparece na sequência, tem um certo peso e mais vinculada a uma pegada Hard Blues certeiro, com direito a vocalização “falseteada” e grave. Em seguida, a romântica “Too Many Tears“, uma baladaça que traz a guitarra de Vandenberg com muito feeling e os teclados suaves, mas essencial, de Brett Tuggle. O tema cinco é “Crying“, um Blues forte e lembra um pouco da clássica “Mistreated“, do Deep Purple, e um vocal inspirado de David Coverdale. O disco chega ao meio com “Stay With Me“, o único cover da obra (a original foi gravada por Lorraine Ellison, gravada em 1966), e que trata-se de uma das canções de despedida e de pedido de regresso mais incríveis já composta. Regravada por muita gente, Coverdale não comprometeu e, possivelmente, deixou muito fã emocionado com a sua releitura da música.

A outra parte do play se inicia com “Can’t Go On“, uma canção semiacústica, que contém um estupendo solo e uma ótima letra que fala de, claro, relacionamentos, mas no caso aqui aborda o abandono e o clamor entre interlocutor e a amada. Posteriormente, em “You’re So Fine“, um ‘rockão’ que remete aos antigos tempos da banda, ou melhor, de Coverdale quando oficializou o Whitesnake como um grupo. Em seguida, aparece “Your Precious Love“, que tem um som preciso e empolgante e que David Coverdale aborda bem sobre um encontro a dois, apreciar a chuva caindo pela janela, segurando as mãos da champola e dizer suas pretensões sem hesitar. A penúltima música é “Take Me Back Again“, um ótimo Blues, que merece destaque por conta do fantástico solo de Adrian Vandenberg e que parece ter sido inspirada em alguma música do Bad Company. Para encerrar o tracklist original, “Woman Trouble Blues“, um rock pesado e enérgico que poderia ter feito parte de “Ready An‘ Willing” (1980) facilmente. 

Evidentemente que a versão japonesa da obra não poderia ficar sem um material bônus. Nesse caso, Coverdale contemplou o mercado nipônico com três temas: “Anything You Want“, “Can’t Stop Now” e a instrumental “Oi“.

Bom, as comemorações de 25 anos desse álbum “quase solo” de David Coverdale começaram desde o ano passado, quando a Rhino lançou no mercado norte-americano no último dia 29 de outubro em todas as plataformas digitais o box do álbum, intitulado “Restless Heart: Super Deluxe Edition“, que contém as novas versões remasterizadas e remixadas do disco original, acrescidos de demos inéditas e músicas que foram excluídas.

O registro foi uma tentativa de retorno de David Coverdale ao cenário musical, mas não foi exatamente da forma que ele gostaria, já que o cantor gostaria que “Restless Heart” fosse um trabalho solo e, como foi dito acima, saiu como um álbum do Whitesnake. O material tem sua importância, sem dúvidas, afinal, foi graças a ele que o autor de “Is This Love” teve motivação para colocar, de fato, o Whitesnake na estrada novamente. Para quem gosta do estilo de cantar de David Coverdale, o registro é um prato cheio, mas para quem é fã do Whitesnake até “Slip Of The Tongue” (1989), poderá ficar um pouco decepcionado.

A seguir, a ficha técnica e o tracklist (da versão japonesa) da obra.

Álbum: Restless Heart
Intérprete: Whitesnake (creditado também como David Coverdale & Whitesnake)
Lançamento: 26 de março de 1997 (Japão) / 26 de maio de 1997 (Europa)
Gravadora/Distribuidora: EMI / Geffen Records
Produtor: David Coverdale

David Coverdale: voz
Adrian Vandenberg: guitarra
Guy Pratt: baixo
Denny Carmassi: bateria e percussão
Brett Tuggle: teclados e backing vocal

Elk Thunder: gaita
Chris Whitemyer: percussão
Maxine Water, Beth Anderson e Tommy Funderburk: backing vocal

1. Don’t Fade Away (Coverdale / Vandenberg)
2. All In The Name Of Love (Coverdale / Vandenberg)
3. Restless Heart (Coverdale / Vandenberg)
4. Too Many Tears (Coverdale / Vandenberg)
5. Crying (Coverdale / Vandenberg)
6. Stay With Me (Ragovoy / Weiss)
7. Can’t Go On (Coverdale / Vandenberg)
8. You’re So Fine (Coverdale / Vandenberg)
9. Your Precious Love (Coverdale / Vandenberg)
10. Take Me Back Again (Coverdale / Vandenberg)
11. Woman Trouble Blues (Coverdale / Vandenberg)
Faixas Bônus:
12. Anything You Want (Coverdale / Vandenberg)
13. Can’t Stop Now (Coverdale / Vandenberg)
14. Oi (Instrumental) (Carmassi / Coverdale / Vandenberg)

Por Jorge Almeida

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